Panamá queixa-se à ONU das ameaças de Trump sobre o canal

O Governo panamiano manifestou hoje a sua preocupação ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sobre a intenção do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de controlar o Canal do Panamá.

Panamá queixa-se à ONU das ameaças de Trump sobre o canal

Numa carta enviada a Guterres, a missão do Panamá na ONU afirmou que as declarações de Trump “são motivo de preocupação”.

O Panamá referiu que a Carta das Nações Unidas proíbe qualquer membro de “ameaçar ou usar a força” contra a integridade territorial ou a independência política de outro membro.

“Solicitamos os vossos bons ofícios para transmitir esta comunicação aos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, do qual o Panamá é membro desde 01 de janeiro, disse o Governo na carta enviada a Guterres.

A missiva, citada pela agência francesa AFP, foi distribuída à imprensa pelo Governo do Panamá.

No discurso de posse, na segunda-feira, Trump repetiu a ameaça de retomar o controlo do Canal do Panamá, que disse ser controlado pela China.

O Canal do Panamá, uma via navegável entre os oceanos Atlântico e Pacífico, foi construído pelos Estados Unidos e inaugurado em 1914.

O canal foi transferido para o Panamá em 1999.

“Fomos muito maltratados por este presente sem sentido que nunca deveria ter sido feito. A promessa que o Panamá nos fez não foi cumprida”, disse Trump, afirmando que os navios norte-americanos são “severamente sobretaxados”.

“Acima de tudo, a China opera o Canal do Panamá e não o demos à China, demos ao Panamá. E vamos recuperá-lo”, afirmou, sem especificar como.

O Presidente do Panamá, José Raul Mulino, respondeu hoje ao homólogo norte-americano durante uma mesa-redonda no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, rejeitando os argumentos de Trump.

“Rejeitamos na totalidade tudo o que o senhor Trump disse, em primeiro lugar porque é falso e, em segundo lugar, porque o Canal do Panamá pertence ao Panamá e continuará a pertencer ao Panamá. O Canal do Panamá não foi uma concessão ou uma dádiva dos Estados Unidos”, afirmou.

Mulino disse que o Panamá não se deixará distrair pelo tipo de declarações de Trump, que disse estar mal informado sobre a realidade.

Reiterou também que os Estados Unidos não podem “simplesmente contornar o direito internacional” para impor a sua vontade.

Mulino negou anteriormente qualquer interferência de outro país no funcionamento do canal, que disse ser operado com base num princípio de neutralidade.

Questionado em Davos por um jornalista sobre o risco de os Estados Unidos invadirem o Panamá, Mulino respondeu duas vezes em inglês, visivelmente irritado: “Be serious! [Seja sério]”.

Em Pequim, e em resposta a uma pergunta sobre o canal, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, afirmou que a China “nunca interferiu” nas questões relacionadas com o Canal do Panamá.

“A China não participou na gestão e operação do canal, nunca interferiu em assuntos relacionados com o canal e respeita a soberania do Panamá sobre o canal, reconhecendo-o como uma via marítima internacional de neutralidade permanente”, respondeu Mao.

A porta-voz acrescentou que a soberania e a independência do Panamá “não estão sujeitas a negociação” e o canal “não deve estar sujeito a qualquer controlo direto ou indireto por parte das grandes potências”.

Quarenta por cento do tráfego norte-americano de contentores passa pelo canal, sendo os Estados Unidos o principal utilizador da infraestrutura, seguidos da China.

PNG // SCA

By Impala News / Lusa

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