PCP alerta para “profundo agravamento” da situação de “milhares de reformados”
O secretário-geral do PCP pediu hoje que se enfrente “os golpes sucessivos que estão em curso ao sistema público e solidário da Segurança Social” e alertou para um “profundo agravamento da situação de pobreza de milhares de reformados”.
Numa intervenção no âmbito do encontro “Envelhecimento com qualidade de vida”, que decorreu hoje no centro de Lisboa, Paulo Raimundo acusou o atual Governo de ter mantido o valor das pensões “muito aquém do que legalmente deveria ter acontecido e muito longe do objetivo de reposição do poder de compra”.
“A operação propagandista do Governo de não aplicação da fórmula por si definida corta pensões e reformas hoje, prepara o corte para 2024 e cria condições para cortes permanentes”, denunciou.
Numa sala repleta de reformados, com os assentos todos ocupados e vários a seguirem o encontro de pé, Paulo Raimundo afirmou que, para uma grande parte dos pensionistas, está hoje “colocada a questão das condições materiais para poder viver ou sobreviver”.
“Estamos confrontados com um profundo agravamento da situação de pobreza de milhares de reformados com pensões muito baixas, a quem lhes é negado o direito a um nível de rendimento que lhes permita uma alimentação cuidada, o pagamento das despesas essenciais como a habitação, a eletricidade ou o gás”, alertou.
O secretário-geral do PCP defendeu que é “preciso afrontar os golpes sucessivos que estão em curso ao sistema público e solidário da Segurança Social” e criticou o que considerou ser uma alegada preocupação do Governo com a sustentabilidade da Segurança Social.
“Debaixo das lágrimas de crocodilo, e para lá da suposta preocupação com a sustentabilidade da Segurança Social, o que estão é a olhar para o dinheiro que existe, para ver como lhe põem a mão. O que procuram é que o dinheiro que há de vir seja transferido, não para o sistema contributivo e redistributivo, mas sim para os bolsos dos grandes interesses. (…) O resto é conversa para entreter os nossos ouvidos”, salientou.
Paulo Raimundo defendeu que “ainda há espaço e tempo para o PS arrepiar caminho” para “minorar a perda de poder de compra que se faz sentir entre os reformados e no conjunto dos trabalhadores”.
No entender do secretário-geral do PCP, esse caminho “não se faz com apoios pontuais, seja a meia pensão paga em outubro passado aos reformados, os 125 euros aos trabalhadores ou os 240 euros ao conjunto das famílias com tarifa social”.
“Naturalmente que estes apoios ajudaram quem os recebeu e ajudaram no momento em que foram recebidos. Mas o problema é que a falta de dinheiro disponível não se faz sentir de forma pontual, o problema é que os aumentos dos bens e serviços não surgem de quando em vez, este é um problema de todos os dias”, realçou.
Segundo Paulo Raimundo, a reposição do poder de compra deve ser feita também “pelo controle e fixação dos preços dos bens e serviços essenciais”, recordando que esse tema foi hoje debatido no plenário da Assembleia da República e que, da última vez que a proposta foi levada à votação no parlamento, PS, PSD, Chega e IL votaram contra.
“Amanhã [sexta-feira] saberemos nas votações da Assembleia da República como vão optar desta vez. Mas, pelo sim, pelo não, é caso para dizer que é tão bom ter casos e ‘casinhos’ para poder elevar o tom de voz e fingir a oposição a um Governo com o qual, nas questões centrais, não só concordam, como apoiam”, afirmou, numa alusão às sucessivas polémicas e demissões no Governo.
Em contraponto com esta postura, Paulo Raimundo afirmou que o PCP condena “os procedimentos e práticas que servem os objetivos do grande capital” e denuncia “todos os que se envolvem nesses escândalos”, mas, simultaneamente, procura agir para que os “problemas essenciais” do país não sejam desvalorizados.
“Este é o nosso principal objetivo: não desvalorizar os acontecimentos, mas não contribuir para que eles tapem os problemas que cada um de nós enfrenta, e esses sim é que é necessário resolver”, vincou.
O líder comunista salientou que “o direito a envelhecer com direitos para os reformados de hoje para os do futuro” consiste num “avanço civilizacional” pelo qual o PCP continuará a lutar.
“E se há ensinamento com o qual hoje daqui saímos, é que é também com a luta dos mais velhos que se garante o presente e o futuro dos mais novos”, concluiu.
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