Pobreza, violência e catástrofes naturais “empurram” hondurenhos para o desconhecido
Cerca de 85% dos migrantes da caravana rumo aos EUA são das Honduras, um país onde as catástrofes naturais não dão tréguas a uma população fortemente dependente da agricultura.
Cerca de 85% dos migrantes da caravana rumo aos Estados Unidos são das Honduras, um dos países mais pobres, violentos e corruptos do mundo e onde as catástrofes naturais não dão tréguas a uma população fortemente dependente da agricultura.
Com 9,1 milhões de pessoas, a pobreza atinge 60% da população hondurenha e 23% das crianças são subnutridas, atingido os 40% em alguns períodos, segundo dados das Nações Unidas.
Mais de dois terços das famílias (72%) vivem da agricultura, quer como pequenos proprietários ou como trabalhadores em grandes explorações agrícolas de banana, café ou açúcar.
O país é extremamente vulnerável a fenómenos climáticos extremos com zonas a registarem longos períodos de seca, enquanto outras são anualmente sujeitas aos efeitos, quase sempre, devastadores de furacões e tempestades tropicais.
Em 2015, a escassez de chuva levou à perda de metade das colheitas, levando muitos hondurenhos a deixar o país rumo aos Estados Unidos e às perspetivas de um futuro melhor.
Globalmente, estima-se que catástrofes naturais causem perdas anuais de 30 mil milhões de dólares nos países da Mesoamérica, onde se inclui as Honduras.
O país ocupa o 133.º lugar em 189 países no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, com as organizações não-governamentais (ONG) a assinalarem que, o progresso económico registado nos últimos anos, se tem revelado insuficiente para resolver problemas como a pobreza, a desigualdade social e crime violento, fatores que continuam a prejudicar o desenvolvimento do país.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta a economia das Honduras como a segunda mais dinâmica da América Central, a seguir ao Panamá, com estimativas de crescimento de 3,5% em 2018 e 3,6% em 2019.
Previsões que refletem, todavia, uma quebra no ritmo de crescimento do país relativamente aos 4,8% de 2017 e os 3,8% de 2015 e 2016.
Com o país na rota do tráfico de droga, a violência associada ao crime organizado e ao narcotráfico é um dos principais problemas do país, com muitas das suas escolas transformadas em centros de recrutamento e os bairros mergulhados em verdadeiras guerras de gangues.
Desde 2016, os números oficias dão conta da quebra do número de homicídios, que continuam, no entanto, em níveis bastante elevados.
Entre janeiro e julho, foram mortas 2.100 pessoas de forma violenta nas Honduras, 11,2% menos do que no mesmo período de 2017, numa média diária de 10 homicídios por dia (11 em 2017).
Tegucigalpa, San Pedro Sula e Choloma são as cidades com maior número de mortes violentas.
No total do ano de 2017, registaram-se 3.864 homicídios, menos 24,9% do que em 2016.
A corrupção e a falta de confiança nas instituições, nomeadamente na polícia, é outros dos problemas do país, de onde chegam igualmente relatos de perseguições a minorias, jornalistas e ativistas de direitos humanos.
O Governo das Honduras, liderado pelo Juan Orlando Hernández, iniciou em 2016 um “processo de depuração” no seio da Polícia Nacional, de que resultou o afastamento de cerca de 5 mil agentes por envolvimento em casos de homicídio encomendados, narcotráfico e outros delitos.
A organização Human Rights Whatch, no seu relatório de 2017, lembra que os níveis de insegurança e violência permanecem altos no país, com a “impunidade generalizada” a “minar a confiança” da população nas autoridades e no sistema de justiça.
A este cenário soma-se a crise política gerada pelas suspeitas de fraude nas eleições gerais de novembro, com protestos massivos em todo o país, reprimidos violentamente pelas forças de segurança e que resultaram em 31 mortos, vários feridos e dezenas de detenções arbitrárias.
Atualmente Governo e oposição estão envolvidos num processo de diálogo nacional sobre este processo.
Mais de duas dezenas de organizações da sociedade civil, hondurenhas e estrangeiras, denunciaram na Comissão Interamericana de Direitos Humanos “uma grave crise de direitos humanos” que afeta toda a população, mas em particular as mulheres, crianças, povos indígenas, afrodescendentes, agricultores, migrantes, presos e pessoas LGBTI [Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transgénero e Intersexuais].
As organizações acusam o executivo de Juan Orlando Hernández de concentração de poder, controlo dos principais órgãos de justiça, militarização da segurança dos cidadãos e repressão dos direitos de manifestação e reunião.
É neste cenário que milhares de hondurenhos continuam a deixar o país, numa longa e dura jornada rumo aos Estados Unidos, uma vaga migratória já considerada “sem precedentes” pelas autoridades do país.
Segundo o ACNUR, a agência da ONU para os refugiados, entre janeiro e outubro, 14.735 hondurenhos procuram asilo em outros países, a maioria no México e nos Estados Unidos, mas muito estão a regressar ao país voluntariamente ou forçados.
Globalmente, o ACNUR adianta que o número de centro-americanos que pediram asilo aumentou 58% em 2017 relativamente a 2016, ultrapassando as 294 mil pessoas.
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