Polícia queniana dispara balas de borracha contra manifestantes

A polícia queniana disparou, hoje, no terceiro dia de protestos liderados por jovens contra os planos fiscais do Governo, balas de borracha para dispersar os manifestantes reunidos no centro da capital, Nairobi.

Polícia queniana dispara balas de borracha contra manifestantes

“Tirem as balas de borracha da caixa”, gritou um agente da polícia aos colegas diante dos jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP), que viram depois a polícia disparar essas balas tanto para o ar como na direção dos manifestantes.

De acordo com os meios de comunicação social locais, realizaram-se igualmente manifestações, sem qualquer oposição policial, em várias outras cidades do país, nomeadamente nos bastiões da oposição de Mombaça (leste) e Kisumu (oeste), em Eldoret (oeste), uma grande cidade do Vale do Rift, a região natal do Presidente, William Ruto, Nyeri (sudoeste) e Nakuru (centro).

Na zona comercial central de Nairobi, os primeiros grupos de manifestantes, na maioria jovens com bandeiras quenianas, apitos e vuvuzelas e gritando “Somos pacíficos”, foram inicialmente mantidos à distância por gás lacrimogéneo.

A polícia utilizou então balas de borracha.

Uma grande força de segurança, incluindo canhões de água e polícia montada, foi destacada para este distrito, epicentro de anteriores manifestações, bloqueando o acesso ao parlamento, onde está atualmente a ser debatido o controverso projeto de orçamento que desencadeou os protestos.

Para este terceiro dia de ação, os organizadores apelaram a manifestações em todo o país e a uma greve geral.

O movimento, apelidado de “Ocupar o Parlamento”, foi lançado nas redes sociais pouco depois de o orçamento para 2024-2025 ter sido apresentado ao parlamento, a 13 de junho, que incluía a introdução de novos impostos – incluindo um IVA de 16% sobre o pão e um imposto anual de 2,5% sobre os veículos privados.

Após uma primeira manifestação, em 18 de junho, em Nairobi, com algumas centenas de pessoas, na maioria jovens da “Geração Z” (nascidos depois de 1997), o Governo anunciou que abandonava a maior parte dos impostos previstos.

Mas a hashtag #RejectFinanceBill2024 (“Rejeitar o projeto de orçamento para 2024”) cristalizou um descontentamento mais amplo entre a população, atingida por dificuldades económicas desde há vários anos, e no dia 20 de junho, desfilaram procissões em muitas cidades.

As reivindicações anti-impostos transformaram-se num desafio às políticas do Presidente, que disse no domingo estar pronto para falar com os jovens.

Embora largamente pacíficos, os dois primeiros dias de manifestações foram marcados pela morte de duas pessoas em Nairobi. Várias dezenas de pessoas foram feridas pela polícia, que também efetuou centenas de detenções.

A Amnistia Internacional do Quénia, num comunicado divulgado na segunda-feira, alertou para o risco de escalada que “poderia levar a mais mortes”.

A Comissão Queniana dos Direitos Humanos, uma ONG, acusou as autoridades de raptarem ativistas “principalmente à noite (…) por polícias à paisana em carros sem identificação”.

A porta-voz da polícia queniana, Resila Onyango, não respondeu às perguntas da AFP sobre estas acusações.

O projeto de orçamento deve ser votado no parlamento antes do final do ano financeiro, a 30 de junho. Os manifestantes pedem que o texto seja retirado na íntegra, denunciando a manobra do Governo que anuncia a retirada de certas medidas fiscais, mas prevê compensá-las com outras, nomeadamente um aumento de 50% dos impostos sobre os combustíveis.

Segundo o Governo, estes impostos são necessários para devolver ao país, altamente endividado, uma certa margem de manobra.

O Quénia, um país da África Oriental com uma população de cerca de 52 milhões de habitantes, é uma potência económica na região mas vive o drama da inflação.

MAV // JMC

By Impala News / Lusa

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