Por que estão Estados Unidos, NATO e Rússia subitamente tão interessados no Ártico?

NATO e Rússia disputam o Ártico, até agora uma zona considerada politicamente neutra. Com o degelo, no entanto, mais mar e mais terra ficaram acessíveis à extração de recursos naturais e rotas de comércio marítimo, despertando a cobiça das grandes potências globais.

Por que estão Estados Unidos, NATO e Rússia subitamente tão interessados no Ártico?

Desde o colapso da União Soviética, o Ártico tem sido considerado uma zona politicamente neutra, marcada pela cooperação internacional pacífica de cientistas. Mas, à medida que o gelo derrete e mais terra e mar se tornam acessíveis, oportunidades para extração de recursos e rotas de comércio marítimo estão a abrir-se, tornando o Ártico cada vez mais atraente para potências globais concorrentes, com vários observadores questionarem a confiança na sua estabilidade.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, é considerada o ponto de viragem nas relações do Ártico. Na altura em que a guerra eclodiu, a Rússia presidia ao Conselho do Ártico, fórum intergovernamental que promove a cooperação e a coordenação entre os Estados do Ártico, os Povos Indígenas e outros habitantes, cobrindo uma série de questões e – crucialmente – excluindo a segurança militar.

Sete dos oito membros do Conselho Ártico (todos, exceto a Rússia) decidiram prontamente boicotar reuniões sobre a guerra e só se reuniram novamente em 2023, para supervisionar a transferência da presidência para a Noruega. Sem a Rússia, cuja fronteira norte compõe 53% do litoral do Ártico, o conselho enfrenta críticas sobre a sua legitimidade internacional, pois deixou de poder alegar o afastamento de conflitos geopolíticos. Em 2024, a Rússia suspendeu os pagamentos anuais à organização até que as atividades do conselho envolvessem a totalidade dos membros fossem foram retomadas, o que acabaria por acontecer, com algumas reuniões virtuais, no ano passado – já com a Rússia.

A Rússia tem maior presença militar no Ártico do que a NATO e tem investido e melhorado as instalações herdadas da era soviética. Chatham House, um think tank do Reino Unido, afirma que o reforço é defensivo que o Kremlin opõe-se à ideia de iniciar um conflito no Ártico. De acordo com o Center for Strategic and International Studies, Moscovo está, em vez disso, “a perseguir ambições económicas, protegendo as suas capacidades nucleares de um ataque e a proteger o poder no Ártico Central, Mar de Bering e Atlântico Norte”.

Arctic Institute diz ainda que o controlo da Rússia sobre a Rota do Mar do Norte (NSR) promoveria uma “alavanca económica e diplomática para estender a sua influência regional”, destacando como a Frota do Norte Russa aumentou a sua monitorização da rota – à superfície e subaquático. O Departamento de Defesa dos EUA adota uma retórica mais forte, afirmando na sua Estratégia Ártica de 2024 que a infraestrutura marítima da Rússia poderá implicar “reivindicações marítimas excessivas e ilegais” ao longo da NSR entre o Estreito de Bering e o de Kara num futuro breve. O documento destaca também novos desafios logísticos na região devido às alterações climáticas, bem como a preocupação dos EUA com a competição de Rússia e China cooperantes entre si, a última das quais demonstrou igualmente interesse em fazer parte dos desenvolvimentos da região, autodenominando-se de um “estado quase ártico”.

A NATOrealizou exercícios e aumentou o seu poder na arena, com a adição da Suécia e da Finlândia ao grupo, no ano passado. O DoD dos EUA diz que está a monitorizar os desenvolvimentos e a melhorar os sistemas de vigilância e alerta precoce na vasta região para “garantir que o Ártico não se torne num ponto cego estratégico”. Dados publicados pela Foreign Policy ilustram como, na Europa, a Noruega tem 13 bases no Ártico, incluindo uma nova, Camp Viking, campo de treino do Reino Unido para os Royal Marines Commandos. Esta fonte mostra que os EUA têm nove bases no Alasca, além das da Gronelândia e da Islândia. Apesar da reiteração do presidente dos EUA, Donald Trump, de querer comprar a Gronelândia nas últimas semanas, Washington afirma que não tem planos para aumentar na região a sua pegada militar atual. Vários analista, porém, observam que as tensões contínuas e a acumulação militar em ambos os lados constituem um risco aumentado para ‘erros’ de cálculo…

Infographic: NATO’s and Russia’s Militarization of the Arctic | Statista

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