Relatório deteta crescimento da extrema-direita na Europa
O crescimento da extrema-direita na Europa, incluindo em Portugal, é o resultado de uma maior colaboração transnacional, sobretudo através da Internet e fora de partidos ou organizações, conclui um relatório europeu publicado hoje.
O crescimento da extrema-direita na Europa, incluindo em Portugal, é o resultado de uma maior colaboração transnacional, sobretudo através da Internet e fora de partidos ou organizações, conclui um relatório europeu publicado hoje.
“Embora seja importante explorar tendências em organizações tradicionais de extrema direita, como partidos políticos, a extrema direita moderna está atualmente a passar por uma mudança mais ampla e fundamental, nomeadamente o surgimento de uma ameaça transnacional e pós-organizacional”, escrevem os autores de ‘Estado de Ódio: Radicalismo da extrema direita na Europa’
Os ativistas continuam a preocupar-se com questões locais ou nacionais, mas procuram contextualizá-las a nível internacional e colaboram em certos temas que ajudam a propagar a informação.
O historiador Joe Mulhall, investigador da Universidade de Cambridge e da organização anti-racismo HOPE not Hate e um dos responsáveis pelo estudo, deu como exemplo a colaboração de movimentos anti-muçulmanos, e agora diz que há uma nova radicalização antissemita nas redes sociais.
“A forma como as pessoas se envolveram em política antissemita muito extremista, especialmente negacionaistas do holocausto, era tradicionalmente feita através da extrema-direita (…) mas agora vê-se nova via [de conversão], pronunciada no último ano, através outras conspirações”, afirmou numa conferência de imprensa.
Desde o início da pandemia de covid-19, os autores do estudo identificaram um aumento de pessoas envolvidos em teorias de conspiração como o movimento Qanon pró-Donald Trump, que associa o Partido Democrata a tráfico de crianças, canibalismo ou rituais satânicos, e grupos anti-confinamento e anti-vacinas.
“Vemos pessoas serem radicalizadas para o antissemitismo através de outras teorias de conspiração, muitas das quais não são originalmente antissemitas”, afirmou.
O estudo, de 125 páginas, foi elaborado pelas organizações anti-racistas HOPE not hate (Reino Unido), Expo (Suécia) e Fundação Amadeu Antonio (Alemanha) para tentar perceber as áreas de interesse que grupos radicais e de extrema direita procuram explorar.
Inclui um inquérito em cinco países europeus (Suécia, França, Alemanha, Reino Unido, Hungria, Polónia e Itália) que concluiu que 25% dos europeus tem sentimentos negativos em relação aos muçulmanos, quase 33% tem opiniões hostis em relação aos imigrantes em geral e mais de 33% tem opiniões negativas sobre os ciganos.
O inquérito, feito a mais de 12 mil pessoas, também encontrou uma profunda desconfiança nas autoridades que os autores acreditam que podem ser uma oportunidade para populistas e extremistas promoverem de teorias de conspiração.
O relatório possui capítulos sobre todos os países europeus, incluindo Portugal, onde a entrada do partido Chega! para o Parlamento é uma consequência, segundo Mulhall, da evolução da extrema-direita no continente.
“As exceções vão desaparecendo ao longo do tempo e na verdade os riscos da extrema-direita europeia são ubíquos e podem acontecer em qualquer país se existirem as circunstâncias certas”, avisou.
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