Síria: Guterres denuncia “falha coletiva crónica” de acordos de desescalada
O secretário-geral da ONU alertou hoje para os acontecimentos “graves e dramáticos” na Síria, onde dezenas de milhares de civis “estão em risco”, denunciando serem “frutos amargos de uma falha coletiva crónica” dos acordos anteriores de desescalada.
Em declarações à imprensa, em Nova Iorque, António Guterres abordou a última ofensiva lançada em áreas controladas pelo Governo pelos extremistas islâmicos do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) — um grupo sancionado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) -, indicando que essa ofensiva levou a mudanças significativas nas linhas de frente, colocando dezenas de milhares de civis em risco “numa região já em chamas”.
“Estamos a ver os frutos amargos de uma falha coletiva crónica de acordos anteriores de desescalada para produzir um cessar-fogo genuíno em todo o país ou um processo político sério para implementar as resoluções do Conselho de Segurança. Isso deve mudar”, frisou o líder da ONU.
O ex-primeiro-ministro português considerou que após 14 anos de conflito, “é hora de todas as partes se envolverem seriamente” com o seu enviado especial para a Síria, Geir Pedersen, “para finalmente traçar uma abordagem nova, inclusiva e abrangente para resolver esta crise”, em linha com decisões já adotadas pelo Conselho de Segurança.
“É hora de um diálogo sério. Em outras palavras, restaurar a soberania, a unidade, a independência e a integridade territorial da Síria — e atender às aspirações legítimas do povo sírio”, defendeu.
Nesse sentido, Guterres indicou que falou hoje por telefone com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com quem abordou a situação na Síria e enfatizou a necessidade urgente de acesso humanitário imediato a todos os civis necessitados e “um retorno ao processo político facilitado pela ONU para acabar com o derramamento de sangue”.
Reiterou ainda que todas as partes em conflito são obrigadas, sob o direito internacional, a proteger os civis.
O líder da ONU recordou ainda o seu mandato como alto-comissário para os Refugiados, durante o qual testemunhou “a imensa generosidade dos sírios”, que “abriram os seus corações e as suas casas para inúmeros refugiados iraquianos”.
“Não havia campos de refugiados na Síria. Os refugiados viviam entre o povo sírio. Parte-me o coração ver o sofrimento deste povo crescer — junto com as ameaças à segurança regional e, na realidade, internacional”, afirmou o secretário-geral da ONU.
“Mais uma vez, peço a todos aqueles com influência que façam a sua parte pelo povo sofredor da Síria”, concluiu.
A aliança islamita Organização para a Libertação do Levante (OLL) reivindicou hoje ter rompido as defesas do exército de Damasco e entrado na cidade estratégica de Hama, segundo um comunicado do seu comando militar.
Os rebeldes afirmaram ter conquistado o controlo da prisão da cidade e “libertado centenas de detidos”.
“As nossas forças entraram na prisão central de Hama e libertaram centenas de prisioneiros que tinham sido detidos injustamente”, anunciou Hassan Abdel Ghani, chefe militar da coligação rebelde, liderada por Abu Mohammad al-Julani, líder do OLL e também chefe do HTS, num canal do Telegram.
Hama é a segunda cidade que os rebeldes do HTS tomam no espaço de uma semana, após Alepo, a segunda maior cidade do país, ter caído a 01 deste mês.
Mais de 700 pessoas foram mortas na última semana, incluindo mais de uma centena de civis, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
MYMM (JSD) // APN
By Impala News / Lusa
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