Soares acreditava que parlamento é a solução face ao populismo
O presidente da Assembleia da República afirmou hoje que o antigo chefe de Estado Mário Soares é figura do presente, antecipou as respostas ao populismo e polarização política, acreditando que o parlamento era solução e não problema.
Esta posição foi defendida por José Pedro Aguiar-Branco na sessão solene evocativa do centenário do nascimento do fundador e primeiro líder do PS, Mário Soares, num discurso que antecedeu o do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e que foi aplaudido de pé pelo PS e PSD. Apenas o Chega não bateu palmas.
No seu discurso, o antigo ministro social-democrata considerou que o tempo político “é outro” face ao vivido por Mário Soares, Presidente da República entre 1986 e 1996 e primeiro-ministro de três governos constitucionais (1976/1978, 1978 e 1983/1985), “mas os desafios nem por isso são menores” e, por vezes, “até são muito semelhantes”.
“Discutimos a liberdade de expressão e a pluralidade, o que podemos dizer e o que não gostamos de ouvir, discutimos o debate político no seu conteúdo, mas também na forma como o mesmo se faz, umas vezes mais inflamado, outras vezes mais musculado. Discutimos a polarização e o populismo. Discutimos o que devemos fazer, como devemos fazer e como reagir para garantir o equilíbrio”, assinalou José Pedro Aguiar-Branco.
A seguir, concluiu: “O que hoje discutimos já Soares tinha antecipado”.
De acordo com o presidente da Assembleia da República, “como bom republicano”, Mário Soares acreditava que o parlamento “não era, não é, não pode ser um problema”, mas tem de ser “a solução”. Uma declaração que mereceu palmas do PS, PSD e CDS.
Mário Soares, prosseguiu Aguiar-Branco, acreditava que “a polarização não se resolve com proclamações de virtude, mas com política, fazendo política no sentido nobre que a palavra tem, discordando com lealdade, negociando com abertura, construindo o futuro com rasgo e visão”.
“Concordemos — ou não — Mário Soares nunca deixou de assumir todas as suas decisões e as consequências das mesmas, mais ou menos populares, mais ou menos difíceis, com coragem e sentido de responsabilidade, mesmo que à custa de votos, apoios ou até amigos. Uma boa prática que foi caindo em desuso nos nossos tempos”, considerou José Pedro Aguiar-Branco.
Em relação ao presente, o presidente da Assembleia da República advertiu que, sete anos depois da morte de Mário Soares e cem anos depois do seu nascimento, esse presente só aos atuais políticos diz respeito.
“É nossa responsabilidade preservar a capacidade de sentar todos na mesma sala para que se entendam nos seus desentendimentos, para que concordem discordando, para que sejam iguais nas suas diferenças. Preservar este seu legado não é uma questão de estima pessoal. É uma necessidade do próprio sistema político” desta nossa democracia, frisou.
“Mário Soares não é uma figura histórica ou do nosso passado, é de hoje. Mas o que fizermos neste hoje dirá se Mário Soares também é futuro”, completou, reforçando os seus avisos.
No seu discurso, José Pedro Aguiar-Branco apontou que esta é a segunda vez em democracia que o parlamento homenageia um político numa sessão solene. A primeira foi com Francisco Sá Carneiro, em 1990, altura que Mário Soares era Presidente da República.
O presidente do parlamento referiu que Soares, na sua intervenção, explicou que Sá Carneiro marcou “pela sua personalidade inconfundível, frontalidade, patriotismo, coragem e inteireza de caráter uma época decisiva do percurso democrático, tão repleto de dificuldades vencidas”.
“O Presidente Soares era, por aqueles dias, a chamada força de bloqueio aos governos de Cavaco Silva, mas achou mais importante homenagear Sá Carneiro do que marcar posição no xadrez político da ocasião. Em algumas sociedades, acredita-se que um Homem viverá o tempo em que for lembrado, viverá o tempo em que lhe forem exaltadas as virtudes. Só isso justifica as elegias, os elogios, as estátuas e as homenagens. Lembramos para não esquecer, lembramos para manter vivo um legado”, salientou o presidente da Assembleia da República.
José Pedro Aguiar-Branco recordou o fundador do PS como “o homem” da admiração por Álvaro Cunhal e da amizade com o general Spínola, o protagonista do 25 de novembro de 1975 e o responsável do resgate do PCP, o decisor da amnistia às FP-25 de abril e da reabilitação dos homens da extrema-direita do MDLP, “o homem” da Constituição de 1976 e do apoio convicto a sucessivas revisões constitucionais.
“Muito mais que o fiel da balança, Mário Soares foi um pêndulo. Deslocava-se de um lado para o outro em função daquilo que acreditava ser o melhor para o país em cada momento. Abdicando, quando em causa um bem maior, de dogmatismos, tanto ideológicos como partidários. Sem inflexibilidades, sem intransigências”, acrescentou o presidente da Assembleia da República.
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By Impala News / Lusa
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