Steinmeier pede aos alemães que não relativizem o Holocausto, num aviso à extrema-direita

O Presidente da Alemanha pediu hoje aos alemães que não esqueçam que o Holocausto faz parte de sua identidade e história, e alertou contra os perigos de relativizá-lo, numa advertência implícita contra a ascensão da extrema-direita.

Steinmeier pede aos alemães que não relativizem o Holocausto, num aviso à extrema-direita

“A Shoah [holocausto] faz parte da história alemã. Quer queiramos quer não, faz parte da nossa identidade. Não pode haver um fim para ela. Não pode ter fim ao fim de 80 anos. Não pode ter fim após 100 anos. Nunca”, disse Frank-Walter Steinmeier num evento que assinalou o 80.º aniversário da libertação do campo de extermínio nazi de Auschwitz pelo exército soviético, a 27 de janeiro de 1945.

“Foram os alemães que organizaram e cometeram este crime contra a humanidade. Foram os alemães que cavaram este abismo de desumanidade, que o planearam, mediram e calcularam”, frisou.

Steinmeier admitiu que os alemães já tiraram lições da sua história e construíram a sua Constituição com base nela, garantindo assim a paz no país e no estrangeiro durante décadas.

“A dignidade do homem é inviolável: esta é a resposta aos crimes monstruosos da Alemanha contra a humanidade. A nossa democracia é a resposta à loucura racial e ao nacionalismo”, afirmou, sublinhando que estes ensinamentos permanecem válidos apesar de o país estar em constante mutação.

Se a Shoah for “reprimida, relativizada ou esquecida”, isso mina as bases da democracia, enquanto aqueles que a atacam abrem caminho ao ódio e à violência, alertou, aludindo implicitamente ao revisionismo defendido pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), segundo nas sondagens antes das eleições de 23 de fevereiro próximo.

“Vivemos numa época de decisões. Cabe-nos preservar o que alcançámos e proteger a nossa democracia. Não voltemos aos tempos sombrios”, avisou, a menos de quatro semanas das eleições.

Na semana passada, num comício de campanha da AfD, o magnata norte-americano Elon Musk dirigiu-se à audiência através de videoconferência e proclamou, sob aplausos, que é tempo de os alemães voltarem a ter orgulho em ser alemães, em vez de se sentirem culpados por algo que os seus avós ou bisavós fizeram.

Noutras ocasiões, os líderes da AfD criticaram a cultura alemã de recordação do Holocausto, como quando, em 2018, o então presidente Alexander Gauland afirmou que o nacional-socialismo não era mais do que uma “merda de pássaro em mil anos de história bem-sucedida” ou quando o líder da Turíngia, Björn Höcke, se referiu ao memorial às vítimas do Holocausto como um “monumento de vergonha”.

O aviso de Steinmeier surge também no mesmo dia em que os conservadores de Friedrich Merz votam dois projetos de resolução não vinculativos para endurecer a política de migração e estão preparados para os fazer passar com o apoio da AfD, um tabu na política alemã até agora, que impôs um cordão sanitário ao partido, incluindo até agora não apresentar medidas que poderiam depender do seu voto. 

 

JSD // APN

By Impala News / Lusa

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