UA denuncia crimes de guerra em curso no Sudão, que acusa Nairobi de apoiar paramilitares
A União Africana denunciou hoje “crimes de guerra e contra a humanidade em curso” no Sudão, em guerra civil desde abril de 2023, e a nação africana acusou Nairobi de apoiar o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido.
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O Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA), com sede em Adis Abeba, na Etiópia, reuniu-se na sexta-feira para debater a guerra no Sudão.
A UA está “preocupada com a escalada contínua do conflito” entre os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) de Mohamed Hamdane Daglo e o exército do general Abdel Fattah al-Burhane, e, “em particular, com a continuação da prática de crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, escreveu hoje a organização pan-africana num comunicado.
Vários países, incluindo os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia, apelaram a uma trégua humanitária durante o Ramadão, que começa no final de fevereiro.
Na semana passada, a UA descreveu o atual conflito no Sudão como “a pior crise humanitária do mundo”, com centenas de milhares de crianças a sofrer de desnutrição aguda grave.
A fome já está a afetar cinco regiões sudanesas, incluindo três no Darfur do Norte, e prevê-se que se estenda a cinco outros distritos do estado até maio, segundo as agências da ONU, com base num relatório recente do Sistema de Classificação da Segurança Alimentar (IPC).
Por sua vez, a nação africana acusou hoje o Quénia de apoiar as RSF, após os paramilitares terem anunciado a sua intenção de estabelecer um Governo paralelo ao atual Governo sudanês, na sequência de uma reunião com vários grupos civis em Nairobi.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) sudanês lamentou, em comunicado, que o Governo queniano tenha “desrespeitado as suas obrigações ao abrigo do direito internacional ao acolher a assinatura de um chamado ‘acordo político’ entre a milícia terrorista Janjaweed (RSF) – responsável por atos de genocídio em curso no Sudão – e os indivíduos e grupos a ela associados”.
“Uma vez que o objetivo declarado deste acordo é estabelecer um Governo paralelo em parte do território sudanês, esta medida promove o desmembramento dos Estados africanos, viola a sua soberania e interfere nos seus assuntos internos”, reiterou o MNE sudanês na nota.
Tudo isto representa, segundo o Governo sudanês, uma “clara violação da Carta das Nações Unidas, do Ato Constitutivo da União Africana e dos princípios estabelecidos da ordem internacional contemporânea”.
Para o executivo sudanês, “acolher os líderes da milícia terrorista das RSF e permitir-lhes levar a cabo atividades políticas e de propaganda – enquanto continuam a perpetrar genocídio, a massacrar civis por motivos étnicos, a atacar campos de deslocados e a cometer violações – constitui aprovação e cumplicidade nestes crimes hediondos”, afirmou.
De igual modo, o MNE sudanês salientou que esta ação do Governo queniano não só viola os princípios de boa vizinhança, como também é contrária aos compromissos assumidos pelo Quénia ao mais alto nível no sentido de não permitir a realização de atividades hostis contra o Sudão no seu território.
Por conseguinte, “equivale a um ato de hostilidade contra todo o povo sudanês”, indicou.
O MNE do Sudão apelou, por fim, à comunidade internacional para que condenasse este “ato hostil do Governo queniano”, afirmando ainda que vai tomar “todas as medidas necessárias para restabelecer o equilíbrio”.
O anúncio das RSF foi feito após o exército sudanês ter dito, segunda-feira, que as suas tropas estão a avançar para norte de Cartum, apertando o cerco às RSF em torno da capital sudanesa, depois de terem tomado o controlo, no início de janeiro, da cidade estratégica de Wad Madani, no estado de Al-Jazira.
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By Impala News / Lusa
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