Bebé em risco de ser tirada aos pais por ter irmão autista

Segurança Social defende que irmão autista é “fragilidade” para regressar a casa. Mãe teme adoção de menina institucionalizada.

Bebé em risco de ser tirada aos pais por ter irmão autista

Um casal cuja capacidade para cuidar do filho autista nunca foi posta em questão tem, há quase dois anos, a filha mais nova institucionalizada. A menina – perfeitamente saudável – foi retirada à mãe aos seis meses, numa altura em que o irmão ainda não tinha sido diagnosticado com a doença. Agora, dá conta o Jornal de Notícias, a Segurança Social apelou ao tribunal para que, ao definir o futuro da bebé, tenha em conta a atenção que os progenitores têm de dar ao menino. A mãe desespera e acredita que a menina tenha sido prometida para adoção.

Em fevereiro do ano passado, na sequência de uma denúncia anónima por maus-tratos e prostituição da mãe, foi aberto um processo de promoção e proteção da bebé. Uma semana depois foi retirada. “Não me deram argumentos nenhuns. Foi a uma consulta no Hospital da Estefânia [Lisboa] e a médica não entendia o porquê de estar ali” lamenta Rute, de 22 anos. Na altura, estava separada do pai da criança, Paulo, com quem deixara o seu outro filho, alguns meses mais velho.

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“Disseram-nos que, para ela ficar connosco, tínhamos de ter habitação fixa, com quarto para os filhos, e de preferência que fosse num lugar seguro”, recorda. Com rendimentos baixos, a família mudou-se da Grande Lisboa para a vila alentejana do Gavião, onde o pai de Rute, emigrado, tinha uma casa. Paulo conseguiu emprego, Rute passou a receber o rendimento social de inserção e arranjou apoio psicológico. O filho foi inscrito numa creche, com ajuda especializada. A menina permaneceu numa instituição em Lisboa. Com a vida estabilizada, o casal pensou que iria, em breve, recuperar a filha mais nova.

Casal mudou-se para Gavião e depois para Amadora

Mas, em abril deste ano, o tribunal optou por prolongar por seis meses a institucionalização. Para tal, alegou, segundo a mãe, a pouca frequência de visitas à menina. Rute admite a falha mas explica que cada viagem até Lisboa custava 80 euros – mais do que a família poderia gastar. Em setembro, mudaram-se para um T2 na Amadora, para ficarem mais perto da filha. Durante este tempo, a capacidade para cuidarem de R. nunca foi questionada. Agora, de acordo com o mesmo jornal, a Segurança Social alega que, apesar de o casal ter condições habitacionais e de o pai trabalhar, subsistem “fragilidades” para reaver a menina.

Entre estas, estão as “necessidades e especificidades” do filho autista e a necessidade de os pais serem apoiados para aprenderem a reconhecer as necessidades da filha e a partilhar a atenção entre as crianças. O facto de o casal não ter um projeto fixo de vida, de desconhecer as necessidades emocionais da filha, e de a mãe receber apoio psicológico e psiquiátrico são outras das “fragilidades” referidas. As técnicas do organismo concluem, ainda assim, que o tribunal deve determinar a reintegração familiar da menina, seja junto dos pais, da família alargada ou de um outro agregado. Já a instituição de acolhimento pugnara pela adoção. “É uma menina bonita, meiguinha, dá-se a toda a gente. Eu acredito que, de certa forma, tenha havido alguém que, se calhar, se tenha envolvido demais com ela e que haja qualquer objetivo”, desabafa Rute.

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