Cartão e restos de embrulhos são o lixo mais espalhado hoje pelas ruas de Lisboa
Restos de embrulhos, resmas de papelão e caixas de brinquedos e de eletrodomésticos eram hoje os resíduos mais espalhados pelas ruas de Lisboa, embora nas freguesias de Benfica e de Alvalade fossem visíveis vários outros tipos de lixo amontoado.
A Lusa fez uma ronda pelas ruas de várias freguesias da capital e foi em Alvalade e em Benfica que mais verificou os efeitos da greve da recolha do lixo, com resíduos de vários fluxos acumulados pelas ruas e, principalmente, junto às ecoílhas.
Em Carnide, Telheiras (Lumiar) e em várias vias de Entrecampos (Avenidas Novas) não eram visíveis caixotes a transbordar ou com lixo acumulado ao redor.
Nas Avenidas Novas, apenas no Bairro do Rego, visitado pela Lusa também na quinta-feira, o lixo continuava a acumular-se nas ruas. Por outro lado, na Horta Nova, em Carnide, funcionários da Junta recolhiam hoje à tarde o papel e outros detritos que se acumulavam na via pública, fora dos contentores.
Em todas estas freguesias existia excesso de cartão e papel para recolher. A recolha do cartão ocorre em Lisboa às quartas-feiras, que esta semana calhou no dia de Natal, pelo que não seria recolhido nesse dia independentemente da greve que os trabalhadores da higiene urbana estão a realizar entre o Natal e o Ano Novo, incluindo a paralisação por dois dias inteiros, na quinta-feira e hoje.
Na Rua Carlos Mayer, em Alvalade, Cecília arrumava como podia a grande quantidade de papel, mas também de plástico e de metal, empilhado ao redor dos vários contentores da ecoílha, enquanto protestava contra “as pessoas que também não têm cuidado nenhum”.
Cecília disse que aquela quantidade de lixo “é a normal” ali “quando há épocas festivas” e, “às vezes, quando não há também”, desdramatizando a greve que não recolheu o lixo.
“O principal problema é que as pessoas veem que o lixo está desarrumado e atiram os sacos ali para cima sem cuidado nenhum, porque há contentores que às vezes até estão vazios”, disse.
O mesmo foi confirmado por uma vizinha, que passou rapidamente para deixar um saco que coube no contentor dos indiferenciados, mas já não deixou um molho de cartão no meio de uma colina com volumes, pacotes, caixas de televisão, de brinquedos, de eletrodomésticos e outros restos de embrulhos, que provavelmente envolveram presentes de Natal, porque “o papel não tem cheiro” e pode ser guardado em casa.
“Aqui é assim muitas vezes. Deveria haver maior frequência de recolha e mais ecoílhas”, sugeriu.
As ruas de Alvalade eram onde mais caixotes de lixo de todos os fluxos se encontravam a transbordar, incluindo alguns equipamentos coletivos, como o vidrão entre a Rua Alferes Malheiro e a Avenida do Brasil, que não é uma ecoílha, mas estava rodeado de lixo por todos os lados.
Nesta avenida, aliás, o lixo transbordava em várias “ilhas” improvisadas pelos moradores e eram visíveis sacos abandonados na via pública, assim como na Rua Aprígio Mafra, onde alguns pombos discutiam por restos à volta dos caixotes dos prédios.
À exceção do papel empilhado, em Benfica, os avistamentos de excesso de lixo foram poucos na zona da estação, na rua das Garridas e adjacentes, na zona das Finanças e nas Pedralvas e nem o contentor de obras colocado excecionalmente na Alameda Padre Álvaro Proença para o lixo indiferenciado estava completo.
O caso mudou totalmente de figura na ecoílha junto ao cemitério de Benfica, na da Estrada dos Arneiros, na da Rua António Caetano de Sousa e na da Rua República da Bolívia, espaços já habitualmente complicados mesmo sem uma greve, mas onde o lixo hoje se amontoava, com sacos de indiferenciados, muitos rasgados, com os detritos espalhados pelo chão.
Nenhuma das Juntas de Freguesia hoje contactadas pela Lusa descartou o impacto da greve na recolha do lixo e todas reconheceram que os serviços mínimos decretados estão a produzir efeito. Embora algumas tenham garantido que a situação está controlada, outras admitiram um cenário mais complicado.
À Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Marvila (PS) reconheceu que já houve “dias piores sem greve”, salientando que tem empenhado os serviços da junta para minimizar o impacto, tal como relataram os seus congéneres das juntas da Misericórdia (PS), Lumiar e Belém (ambas PSD/CDS-PP).
O presidente da Junta do Lumiar, Ricardo Mexia, reconheceu que a situação está a colocar “alguns desafios” à gestão de recursos da autarquia, mas, apesar do impacto, “o dia 26 não foi muito diferente de outros dias 26”, embora hoje já tenha sido “mais fora do expectável”.
Fernando Ribeiro Rosa, presidente da Junta de Belém, afirmou que hoje “o lixo não está muito acumulado”, mas admite que, com o passar do tempo, “será mais difícil”.
A presidente da Junta da Misericórdia referiu que a situação na freguesia é complicada, “mas a recolha tem estado a passar, os serviços mínimos da câmara estão a funcionar e os da junta também, a 100%, dentro das suas competências”.
Para o Ano Novo está prevista greve ao trabalho normal e suplementar no período noturno, entre as 22:00 do dia 01 (quarta-feira) e as 06:00 do dia 02 de janeiro (quinta-feira).
Os sindicatos justificam a realização da greve com a ausência de respostas do executivo municipal, liderado por Carlos Moedas (PSD), aos problemas que afetam o setor da higiene urbana, em particular o cumprimento do acordo celebrado em 2023.
A Câmara de Lisboa assegurou que 13 dos 15 principais pontos do acordo estão a ser cumpridos e que os restantes dois — obras nas instalações e a abertura de bares em todos os horários e em todas as unidades — estão em fase de conclusão.
Para minimizar os efeitos do protesto, a autarquia decidiu implementar um conjunto de medidas, nomeadamente criar uma equipa de gestão de crise, disponível 24 horas; distribuir contentores de obra, em várias zonas da cidade, para deposição de lixo; pedir aos cidadãos que não coloquem o lixo na rua, sobretudo papel e cartão; apelar aos grandes produtores que façam a sua recolha durante estes dias; e pedir a colaboração dos municípios vizinhos, com possibilidade de utilização de ecoílhas móveis.
RCS (SBR) // MCL
By Impala News / Lusa
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