Drone salva casal ucraniano de ataque russo com papel onde se lia “segue-me” [vídeo]
Um casal ucraniano ficou debaixo de fogo russo quando tentava fugir da zona de Izium. O homem ficou gravemente ferido e um drone ajudou a mulher a fugir. O resgate foi filmado e é impressionante. As imagens integram um documentário do realizador Lubomir Levitski.
Um casal ucraniano ficou preso no fogo russo quando tentava fugir de carro da zona de Izium. Mas um drone salvou-os, com uma mensagem escrita à mão num papel que dizia: “Segue-me“. O resgate foi filmado e integra um documentário do realizador Lubomir Levitski. E pode ser uma importante prova contra a Rússia, que é acusada de cometer crimes de guerra contra civis ucranianos.
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A história aconteceu em junho do ano passado. Valeriia Ponomarova e Andrii Bohomaz regressavam, de carro, a Bakhmut para retirarem os pais, idosos e doentes, de uma zona de intenso combate. Mas enganaram-se no caminho e acabaram em território inimigo, onde foram atingidos pela artilharia russa. O homem ficou gravemente ferido.
‘Sid’, primeiro tenente das Forças Armadas ucranianas, conta que naquele dia a sua equipa tinha colocado um drone no ar porque tinha ouvido movimentações. E que um comandante de outro batalhão informou-os de que havia um veículo de civis a mover-se na sua direção.
Enganaram-se no caminho
“Virámos o drone para lá e vimos que havia um cruzamento onde sabíamos que o inimigo se escondia, mas ainda não tínhamos sido capazes, de forma precisa, de identificá-lo, por alternavam de local ,de tempos a tempos, ou simplesmente iam e vinham”, começa por contar no documentário.
“Quando vimos um carro a tentar descer, não conseguimos perceber quem era, mas só podiam ser civis, porque os militares sabiam que estava ali o inimigo e não iam para ali”, continua. “Tínhamos de fazer qualquer coisa. Fazer-lhes sinal de que tinham virado na direção errada”, diz.
Os militares foram acompanhando o carro com o drone e estavam na esperança de que, no cruzamento, o carro virasse à direita, na direção das posições das tropas ucranianas. Mas tal não aconteceu. Virou à esquerda, mesmo em direção ao inimigo. O carro começou a ser atingido, com armamento pesado, pelos russos, mesmo sabendo que se tratavam de alvos civis.
“Vimos uma pequena paragem de autocarro, mas que também estava destruída. Primeiro pensámos em correr para lá, para nos escondermos, mas começou a explodir tudo ao nosso lado, houve várias explosões”, relata Valeriia. Mas “algo voou” na sua direção e tiveram de abandonar o carro imediatamente.
Quando saíram, Andrii estava ferido. Valeriia prestou os primeiros socorros ao marido e recorreu a tudo o que tinha no carro para lhe conseguir estancar o sangue que se derramava no asfalto.
‘Sid’ continuava a assistir a tudo através do drone. “Tentámos enviar outro drone para a posição onde eles estavam e usarmos este drone para lhes indicar a direção em que tinham de ir”, explica o primeiro-tenente.
Drone ficou sem bateria
O drone desceu o mais baixo possível, até cerca de 20 metros do solo, para que Valeriia percebesse que não estava sozinha e que deveria seguir o aparelho. Valeriia acenou, mas não sabia se o drone pertencia às tropas ucranianas ou russas.
“Tentámos indicar o caminho para uma área segura, um local que tinha sido cavado para guardar material militar, onde podiam proteger-se dos bombardeamentos. Mas eles não entendiam os nossos sinais, tínhamos de inventar algo mais acessível para que eles pudessem perceber o que fazer e para onde ir”, conta ‘Sid’.
Entretanto, o drone estava a ficar sem bateria, tinha 10%, e era preciso fazê-lo regressar à base para o recarregar. Enquanto o drone era carregado, ‘Sid’ lembrou-se de uma forma de comunicar com Valeriia: fixar uma folha de papel ao drone com a mensagem: “Segue-me”.
O drone voltou a ser enviado para junto de Valeriia. A mulher fez sinal que tinha o marido ferido e que de era necessário resgatá-lo. Mas os militares ucranianos não o podiam fazer porque as tropas russas encontravam-se a cerca de 30 metros de distância.
Ferido, Andreii esteve 30 horas numa vala e sobreviveu
Valeriia agarrou no telemóvel para falar com o irmão do marido e explicou-lhe o que se estava a passar. Este disse: lhe: “Vai, esta pode ser a única hipótese de salvar o Andrii, porque não consegues ser tu a carregá-lo”.
A mulher começou a seguir, a pé, o drone, que lhe foi dando indicações, através de diferentes movimentos, do que devia fazer e para onde devia ir, de forma a evitar as minas plantadas pelo caminho. Até que finalmente foi abordada por um militar ucraniano que lhe disse: “Anda, vamos ajudar-te, mas agora temos de correr porque há um confronto e vamos levar-te para um lugar seguro primeiro”.
A primeira reação de Valeriia foi de regressar para resgatar o marido. Mas foi travada pelo militar, que a alertou: “Não percebes que se regressares agora, vais ficar lá com ele e vão matar-vos aos dois”.
Nesse momento, um grupo de militares russos aproximou-se da viatura, retirou Andreii da estrada e colocou-o numa trincheira, numa zona habitualmente destina a equipamento militar. No documentário, os militares ucranianos confessam que, face aos ferimentos que Andreii apresentava, não acreditavam que este fosse sobreviver. Mas Andreii sobreviveu.
Esteve 30 horas inconsciente numa vala, até que acordou com a chuva: “Ouvi chover, comecei a tremer, olhei à volta e percebi que estava numa trincheira. Percebi que tinha de sair dali de alguma forma”, conta o homem.
Quando os militares ucranianos voltaram para o resgatar, o homem já não estava no local onde tinha sido deixado. Não sabiam dele. Andreii saiu pelo próprio pé, com estilhaços cravados em todo o corpo, e foi andando em direção às posições das tropas ucranianas. Um soldado de outro batalhão tirou-lhe uma foto e enviou-a para todos os postos a perguntar se sabiam quem era. E ‘Sid’ reconheceu-o.
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Texto: Inês Neves; Foto: reprodução Youtube
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