Denunciada queima de restos mortais na Etiópia para esconder provas de genocídio

As forças governamentais etíopes estão a queimar restos mortais de centenas de civis massacrados na província de Tigray para eliminar provas de genocídio antes da chegada ao país de uma delegação do Tribunal Penal internacional, noticiou hoje a BBC.

Denunciada queima de restos mortais na Etiópia para esconder provas de genocídio

A estação britânica, que cita mais de uma dezena de testemunhas, refere que se trata de vítimas da guerra que opõe as forças governamentais da Etiópia às da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês), um conflito iniciado em novembro de 2020 e em que os dois lados são acusados de cometer crimes de guerra.

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O Tigray Ocidental está agora ocupado por forças da província vizinha de Amhara, que são acusadas em particular, como revelou em abril a organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW), de “expulsar sistematicamente várias centenas de milhares de civis Tigray das suas casas através de ameaças, assassínios, violência sexual, detenção, tiroteios em massa arbitrários, saques, realojamento forçado e negação de assistência humanitária com a aquiescência e possível envolvimento das forças federais etíopes”.

A investigação da BBC revela, por exemplo, que “mais de 200 corpos de civis do povo Tigray, enterrados em duas valas comuns atrás da escola Hamele Hamushte, na região de Humera, foram exumados, queimados e transferidos para outro lugar” depois de a ONU ter aprovado uma investigação independente sobre o que aconteceu numa área onde o acesso de fontes externas é praticamente inexistente.

As novas autoridades no oeste de Tigray reconheceram à BBC que as suas forças exumaram corpos, mas garantem que a intenção é coletar evidências que demonstrem uma campanha de assassínios realizada pelas forças da TPLF nas últimas décadas. As testemunhas citadas pela BBC também relatam outra ação semelhante de cerca de 150 corpos na cidade de Adebay, também no oeste de Tigray, e outros 70 na cidade de Beaker com a suposta participação de especialistas da Universidade de Gondar, da Etiópia, para facilitar o “desaparecimento”. A instituição não respondeu às alegações.

O gabinete do primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed também não comentou e apenas o presidente do parlamento federal, Agegnehu Teshager, negou categoricamente as acusações. “Não foi possível exumar as valas comuns e mostrá-las até agora ao mundo porque a TPLF controlada a região”, vincou Teshager, antes de descartar as acusações da HRW, classificando-as como “sensacionalistas” que “não têm em conta a realidade no terreno”.

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A TPLF acusou Abiy de aumentar as tensões desde que chegou ao poder em abril de 2018, quando se tornou o primeiro Oromo a assumir o cargo. Até então, a TPLF tinha sido a força dominante no seio da coligação de base étnica que governava a Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRDF, na sigla em inglês). A organização opôs-se às reformas de Abiy, que viam como uma tentativa de minar a sua influência.

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