Freiras abusaram e mataram crianças em orfanato
Freiras do orfanato norte-americano de St. Joseph terão agredido centenas de crianças.
A reportagem é do BuzzFeed e foi publicada hoje após quatro anos de investigação. A investigação centrou-se numa instituição em particular, o orfanato católico St. Joseph’s, em Burlington, no estado do Vermont.
Mais de 100 pessoas acusaram a diocese de Burlington de maus tratos. Joseph Barquin acusa uma freira de o ter levado para uma sala, acariciar-lhe os genitais, e depois, agredi-lo com um objeto cortante. Uma outra rapariga foi empurrada escada abaixo por uma freira.
Nos anos 90, quando Joseph se casou e foi para cama com a mulher, esta ficou chocada com as cicatrizes nos seus genitais. Aconselhado pela esposa, foi fazer terapia. Antes, pediu ajuda aos padres da diocese. Estes nunca responderam e Barquin partiu para um advogado.
Tinham passado quatro décadas desde os abusos e a lei determina que tem seis anos para apresentar queixa a partir do momento em que é abusada. Ainda assim, o advogado Philip White decidiu pegar no caso.
Em 1993 apresentaram queixa contra a Diocese de Burlington, a organização Vermont Catholic Charities e uma irmã. A resposta foi a prevista: Joseph Barquin tinha tido 40 anos para apresentar queixa, dizia o advogado da igreja.
Com o advogado de Barquin, passou-se o mesmo que agora com a jornalista do BuzzFeed: pouco ou nada se sabe sobre o modo de funcionamento destas instituições.
Aconselhado pelo advogado, Barquin contou a sua história numa conferência de imprensa e depois disso, mais 40 pessoas o contactaram com as mesmas experiências.
Foi criado o grupo de sobreviventes e amigos do orfanato de St. Joseph e as vítimas foram-se juntando. Perante um impasse no rumo a seguir, Philip White convocou um encontro, em setembro de 1994. Sally Dale foi uma das que compareceu. As irmãs chamavam-lhe teimosa e castigavam-na quando se recusava a comer. Um dia, atiraram-na escada abaixo.
De entre as histórias partilhadas naquele encontro, Roger Barber contou como as freiras tinham dito a um grupo de rapazes que abusassem dele. Outra mulher recordou como uma freira limpou a cara dela com o seu próprio vómito.
Joseph White acabou por se afastar do caso mas os seus esforços já tinham dado fruto. O bispo à frente da diocese de Burlington ofereceu 5 mil dólares a cada uma das vítimas para chegarem a acordo. 160 pessoas receberam essa compensação.
Barquin não aceitou o dinehiro e arranjou outro advogado, Robert Widman. Depois de contactarem centenas de pessoas, identificaram um padrão.
As crianças eram castigadas num tanque de água ou num armário. As agressões eram com uma régua, um bastão, uma lâmpada, ou uma correia.
Mas foi o testemunho de Sally Dale, que ali viveu entre os 2 e os 23 anos, que mudou tudo. Durante o seu depoimento em tribunal, a mulher recordou que tinha visto um rapaz ser atirado da janela de um prédio, outro afundar-se e não voltar à superfície, ou outro ainda que morreu eletrocutado.
Disse ter sido queimada e que as freiras lhe diziam que as queimaduras eram o resultado de ser má. Outro relato fundamental foi o de Elaine Benoit. Tinha sido agredida diante de vários colegas e todos estes tinham versões que incluíam bastões, e fósforos.
O processo estagnou e tal como Sally, muitas testemunhas foram desistindo. Algumas com acordos monetários com a igreja.
Sally Dale morreu em 2000 e foi o filho que resgatou as cartas trocadas com Widman. Contactado pela jornalista que levou a cabo a investigação, disse que não há forma de provar a veracidade das mortes, o que o levou a não avançar com o caso.
Mos anos 2000, um juiz ordenou que a Diocese de Burlington revelasse os dossiês pessoais de dezenas de padres, revelando acusações de abuso sexual. Uma antiga freira do orfanato, hoje com 88 anos, confirma que havia permissão para dar pontapés nas crianças mas recusou-se a contar mais porque ela própria lá viveu desde os 18 anos.
A Diocese de Burlington recusou-se a falar com a jornalista do BuzzFeed.
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