Genie Wiley, a menina que passava os dias trancada e amarrada num quarto escuro
Genie foi diagnosticada com uma deficiência de aprendizagem. Por isso, o pai decidiu trancá-lo num quarto escuro durante 13 anos.
Em novembro de 1970, um caso chocante de uma criança de 13 anos chamou a atenção das autoridades de Los Angeles, Estados Unidos. Genie Wiley, nascida em 18 de abril de 1957, foi vítima de abuso infantil, negligência e completo isolamento social. Genie é, na verdade, o pseudónimo da vítima. Susan Wiley é o seu nome de nascimento. Mais tarde, ficaria conhecida como “menina selvagem“. Quando tinha apenas vinte meses, foi diagnosticada com uma pequena deficiência de aprendizagem, situação que incomodou o pai, Clark Wiley.
Então, Clark passou a trancá-la na cave, que se tornou uma “gaiola improvisada”. Além disso, baniu a filha de qualquer contacto que a pudesse constranger ou mesmo incomodar outras pessoas. Lá, Genie passava os dias fechada num quarto escuro e amarrada a um penico ou a um berço. Durante muito tempo, Genie não tinha autorização para falar com ninguém, nem com os familiares. Clark castigava a menina por qualquer infração que ela viesse a cometer — o que incluía fazer barulhos. O pai rosnava sempre que achava que a filjha tinha feito algo que não devia. Além disso, acredita-se que tenha sido abusada sexualmente pelo progenitor.
Eventualmente, a mãe, Dorothy, que era cega — razão pela qual disse não ter conseguido parar os comportamento do marido — denunciou a situação aos serviços sociais e, em 1970, Genie – que não tinha aspecto de adolescente fruto dos abusos sofridos – foi encontrada. A extensão do isolamento impedia-a de ser exposta a qualquer tipo de comunicação, razão pela qual não aprendeu linguagem e comportamentos humanos durante a infância. Além disso, o pai nunca a alimentou de forma adequada.
Pai de Genie suicidou-se antes de ser julgado
O processo por abuso infantil foi aberto contra ambos os pais. Clark não chegou a ser responsabilizado, já que se suicidou pouco antes do julgamento. Escreveu um bilhete a dizer que “o mundo não entenderia”. Genie sabia pouquíssimas palavras quando foi levada para o Hospital Infantil da Universidade de Los Angeles. Os profissionais locais afirmaram ser a criança com mais défices de aprendizagem que já tinham conhecido. Rapidamente o caso tomou grandes proporções, razão pela qual Susan passou a ser chamada de Genie – um pseudónimo inventado para proteger a criança da exposição mediática.
Para os cientistas, o caso seria um marco na história das pesquisas linguísticas. O governo californiano criou e financiou uma equipa para que dessem continuidade às pesquisas com a “menina selvagem”. Genie seria a chave para descobrir como o cérebro humano se desenvolve e se as chamadas “idades críticas” eram realmente verdadeiras. Uma das dúvidas residia no facto de saber se conseguiria aprender a andar ou falar. Assim, a jovem provou que a crença de que a linguagem não poderia ser aprendida após a puberdade não era verídica, já que mostrou grande avanço no conhecimento de palavras e na ampliação do vocabulário.
Susie Curtiss foi uma das investigadoras que mais se relacionou com Genie durante os anos de investigação. Diz que a adolescente “era inteligente” e enumerou algumas das complexas tarefas que a jovem conseguia realizar. “Conseguia ordenar uma série de imagens para que compusessem uma história, além de formar estruturas com ramos. Tinha outros sinais de inteligência”. Apesar disso, não conseguia formular frases completas, e expressava os pensamentos com palavras soltas. O caso de Genie ajudou a mostrar que existe um limite linguístico em aprender um idioma se não fala fluentemente alguma outra língua.
«Expressão facial de uma vaca incompreendida»
Quando Genie atingiu a maioridade, sua mãe ajuizou uma ação para que a custódia da garota voltasse a suas mãos, já que o problema teria sido com o falecido pai. Dorothy afirmou, também, que os cientistas estavam a explorá-la para reconhecimento próprio. Algum tempo depois, tendo dificuldade em criar uma pessoa que tinha claras diferenças por comparação com o comportamento de uma pessoa criada em sociedade, a mãe colocou-a novamente para adoção. Genie passou por alguns lares, tendo sofrido vários tipos de abusos. Num desses locais, vomitou e foi espancada por tê-lo feito sem querer. Desde então, Genie passou a ter medo com medo de abrir a boca e parou de comer e comunicar. Assim, os progressos foram regredindo cada vez mais e muitas das conquistas foram minimizadas.
O paradeiro de Genie é incerto. O último relato obtido foi a de um jornalista, Russ Rymer, que a visitou no 27.º aniversário. “O que vi foi uma grande e hesitante mulher, com a expressão facial de uma vaca incompreendida. Os olhos mal focavam o bolo de aniversário. O cabelo escuro foi arrancado do topo de sua testa, dando-lhe um ar de paciente de hospital psiquiátrico”, contou. Vários dos investigadores tentaram contactá-la, como Curtiss. Mas sem sucesso. A última informação acerca do seu paradeiro aconteceu em 2008, quando foi indicado que estaria num asilo em Los Angeles.
Fotos: Reprodução Twitter Crimes Reais
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