Igreja Lusitana recebe Arcebispo de Cantuária para abertura do 100.º Sínodo
O próximo fim de semana assume uma importância particular para a Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, pertencente à Comunhão Anglicana, que recebe o seu líder espiritual, o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby.
A razão da visita é a abertura do 100.º Sínodo da Igreja Lusitana, mas o bispo diocesano, Jorge Pina Cabral, atribui-lhe outro significado: “a visita do senhor Arcebispo de Cantuária, nosso Metropolita e líder espiritual da Comunhão Anglicana, é um reconhecimento da missão e do trabalho que a Igreja Lusitana tem desenvolvido”.
“Ao assinalarmos já o 100.º sínodo diocesano, a presença do senhor arcebispo vem dar um reconhecimento e, ao mesmo tempo, também um apoio, um estímulo muito forte, ao trabalho da nossa igreja”, acrescenta o bispo, que lidera uma diocese composta por 14 comunidades de norte a sul do país, congregando cerca de 5.000 membros, entre “batizados, simpatizantes, amigos”.
Jorge Pina Cabral, em entrevista à agência Lusa na Catedral de S. Paulo, antigo convento dos Marianos, em Lisboa — o Centro Diocesano localiza-se em Gaia -, sublinha que a Igreja Lusitana “pertence à grande família da Comunhão Anglicana e é uma igreja nacional” que celebra 144 anos.
É uma igreja constituída em Portugal em 1880 em Lisboa, sendo “uma igreja que é uma via intermédia entre o catolicismo romano e as igrejas protestantes”, explica, sublinhando que “é uma igreja desde a sua origem fortemente inculturada, e ao mesmo tempo uma igreja ecuménica, na medida em que procura estabelecer as relações com as outras igrejas, fortemente empenhada no Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC) e também, de há uns anos a esta parte, no diálogo inter-religioso”.
O bispo afirma que “é uma igreja minoritária, mas muito implantada nas comunidades onde está inserida e também com um forte trabalho social, através de projetos que as comunidades alimentam de serviço ao próximo e de formas mais institucionais, através de duas IPSS”.
Desmistificando a ideia de que uma igreja ligada à Comunhão Anglicana seria forçosamente uma igreja dirigida à comunidade inglesa ou seus descendentes, Jorge Pina Cabral faz questão de frisar que, “desde o seu início que a Igreja Lusitana se dirigiu para os portugueses. É uma igreja portuguesa que celebra em português a sua liturgia. Tem uma liturgia própria em português, o culto é um culto em português”.
Adianta, no entanto, que em Portugal existem as “capelanias inglesas”, que cultuam em inglês, para crentes de língua inglesa, diretamente ligadas à Igreja de Inglaterra. “Podemos dizer que são comunidades irmãs da Igreja Lusitana”, dado que, como a Igreja Lusitana pertence à Comunhão Anglicana, também a Igreja inglesa a integra.
Jorge Pina Cabral dá estas explicações na Catedral de S. Paulo, templo antigo onde, por estes dias, são feitos os últimos trabalhos, nomeadamente de pintura, para que tudo esteja pronto no próximo sábado, para a chegada de Justin Welby e sua mulher Caroline.
Como momentos mais significativos da visita de dois dias do líder espiritual dos anglicanos, Pina Cabral destaca um encontro com representantes de outras religiões presentes em Portugal, no sábado de manhã, a eucaristia de abertura do sínodo, à tarde, com a presença esperada do Presidente da República — que após a cerimónia terá um encontro a sós com o arcebispo -, a sessão de abertura formal do Sínodo e, já no domingo, a visita à paróquia da Sagrada Família, em Queluz.
O sínodo, que tem a abertura formal neste sábado, terá a segunda sessão nos dias 30 e 31 de maio e 01 de junho, com os trabalhos a decorrerem sob o mote “Chamados à Esperança e à Santidade em Cristo”.
Para o bispo diocesano, “é uma forma de a igreja iniciar um processo sinodal, de abertura, de reflexão para a sua missão, mas também de serviço ao mundo”.
“Quando falamos de esperança, queremos que a Igreja internamente tome consciência de que tem um papel importante numa sociedade tão fragmentada, tão dividida, vivendo problemas diversos, onde muitas pessoas carregam a sua cruz diária. Nós queremos que cada crente da Igreja, e que a Igreja no seu geral, seja capaz de levar uma palavra de ânimo, de esperança e conforto àqueles que vivem em necessidade”, acrescenta.
Por outro lado, “vamos apelar à santidade em Cristo. A santidade é, digamos, um modelo ético da fé e num mundo onde assistimos a tantos desvios morais, a tantos desvios ligados a questões de injustiça, de falta de solidariedade e até de corrupção moral, económica e financeira, queremos que uma das formas de testemunhar a fé cristã seja através de uma vida com ética, exemplar, sustentada na própria pessoa de Jesus Cristo”.
Com um modelo de gestão muito próximo das comunidades, a Igreja Lusitana, apesar da sua dimensão, considera-se preparada para responder ao dia a dia da sociedade.
“As igrejas anglicanas são verdadeiramente sinodais, ou seja, o sínodo, sendo o órgão máximo, presidido pelo bispo, é um espaço de diálogo, de confronto de ideias e visões diferentes, é um espaço também de democracia e de educação para a participação, porque no sínodo estão presentes os delegados das diversas comunidades e o clero da Igreja em pé de igualdade”, explica Pina Cabral.
Assim, “o sínodo é como que uma escola de democracia e de inclusividade, e esta marca é algo que equipa os próprios crentes para trazerem para a Igreja o seu sentir, os seus problemas, a sua própria voz. Isso permite que a reflexão que a Igreja faz seja uma reflexão contextualizada, que acolhe o sentir do povo, das bases da própria Igreja”, acrescenta.
*** João Luís Gomes (texto), Jorge Coutinho (vídeo) e Miguel Lopes (fotos), da agência Lusa ***
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By Impala News / Lusa
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