Joacine Katar Moreira: A gaguez é o mínimo, o pior é ser considerada «imbecil»
Perante as críticas que a apontam como inapta para estar no Parlamento, a deputada do livre afirma que «a verdadeira elite não se comporta assim».
Joacine Katar Moreira foi entrevistada por Manuel Luís Goucha, para o programa Você na TV!, da TVI. A deputada do Livre, que conseguiu um assento na Assembleia da República com as eleições legislativas, no dia 6 de outubro, fala sobre a chegada ao Parlamento e a responsabilidade que sente ao assumir tal posição.
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«Senti uma enorme responsabilidade, mas, simultaneamente, uma alegria enorme e um ânimo. Era algo que há um ano não imaginava. Hoje em dia olho e acho que é exatamente neste espaço onde afinal necessitava de estar», afirma Joacine Katar Moreira.
A chegada ao Parlamento gerou polémica devido à perturbação de gaguez que tem e ao facto de ser de origem guineense. «É uma recompensa mais ou menos ácida porque ninguém estava à espera que uma mulher como eu estivesse na Assembleia da República. Não é hábito. É normal que eu hoje origine alguns anticorpos em alguns. Simultaneamente, os que todos os dias se levantam para trabalhar e sobreviver, eles olham para mim e reconhecem-se. Recebo imensas mensagens de incentivo, apoio», afirma.
Às pessoas que dizem que a sua mensagem «não chega às pessoas porque gagueja», Joacine não hesita: «A verdadeira elite não se comporta desta maneira. As elites oficialmente são as que são a iluminação, ‘são as que efetivamente tem a responsabilidade de ajudar a sociedade’. Portanto, uma elite que não se comporta desta maneira, não é uma verdadeira elite. Alguém altamente educado chama outra pessoa de imbecil?»
Para a deputada do Livre, as críticas que recebe resultam de «uma inabilidade enorme de nos relacionarmos com quem é diferente e não encaixa na normalidade instituída, que não é real».
Joacine sobre desempenho parlamentar: «É óbvio que a mensagem não anda da mesma maneira»
Questionada por Manuel Luís Goucha sobre se o facto de gaguejar interfere com a mensagem que quer transmitir, Joacine Katar Moreira refere que «é óbvio que a mensagem não anda da mesma maneira», mas salienta: «A gaguez é uma perturbação, mas não é uma deficiência. Nunca foi considerada como elemento que impedisse alguém de falar. Andam a escrever artigos a dizer que não estou apta para trabalho parlamentar. Estas pessoas acham que um deputado tem apenas de não gaguejar para ser apto?»
Os comentários de ódio proferidos a Joacine magoam-na, mas não a demovem. «Magoam, óbvio que sim. Especialmente porque eu ainda não fiz nada de errado. Este ódio é um ódio que não está relacionado com algo que eu tenha feito, é um ódio que está a ser alimentado, que é organizado. Nunca pensei nisso [em recuar] e não vou a lado nenhum. Nunca vou recuar», garante.
«Isto não é provocação, é realidade»
Sobre o facto de o partido Livre ter uma mulher negra como representante e de o seus assessor, Rafael, ter usado uma saia no Parlamento, Joacine Katar Moreira diz não se tratar de uma «provocação, mas sim da realidade».
«É a nossa realidade. Há mulheres negras que gaguejam, há homens que são assessores parlamentares que usam uma saia, outras vezes calças. É igualdade. É com estas ideias de igualdade que vamos estar durante a legislatura inteira», termina.
Texto: Sílvia Abreu
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