Mãe que injetava veneno no filho está presa em ala psiquiátrica

Patrícia R foi apanhada pela Polícia Judiciária a tentar envenenar o filho, de sete anos, que se encontrava internado no hospital.

Mãe que injetava veneno no filho está presa em ala psiquiátrica

Patrícia Ribeiro, de 27 anos, bombeira de profissão em Óbidos, não olhou a meios para tentar a reaproximação do ex-namorado. A mulher foi apanhada pela Polícia Judiciária a administrar clorofórmio no soro do filho, um menino de 7 anos, que se encontrava internado no Hospital D. Estefânia. A mãe da criança queria, assim, aproveitar a proximidade do homem à criança, para que este tivesse pena dela e assim reatassem relação.

Mulher desperta atenção dos médicos que acompanhavam o filho

Assim que deu entrada no Hospital com o filho, Patrícia R. despertou a atenção dos médicos que acompanharam o caso. Revelava uma personalidade narcisista e o filho piorava sempre que a mãe estava por perto. A condição da criança não tinha qualquer diagnóstico e sempre que apresentava melhorias, piorava logo a seguir.

Em menos de 24 horas, Patrícia é detida

Os especialistas do Hospital perceberam que a mulher estava a prejudicar a saúde do filho e assim que o alerta chegou à Polícia Judiciária depressa foi montada uma vigilância discreta no Hospital. Patrícia Ribeiro foi detida em menos de 24 horas depois da denúncia e encontra-se presa na unidade de psiquiatria do Hospital-prisão de Caxias.

Médicos têm de determinar agora se a bombeira sofre de um síndrome

Os contornos do caso e a forma como a mulher agia, levam os especialistas a acreditar que Patrícia sofre de Síndrome de Munchausen por Procuração, uma forma de abuso infantil em que os progenitores inventam ou causam doenças nos filhos (ou outra pessoa de quem cuidem) para chamar a atenção. Neste caso, a mulher misturava clorofórmio, uma substância tóxica incolor, no soro do filho, que lhe provocava inúmeras paragens cardíacas, para chamar a atenção de um ex-namorado.

O que é Síndrome de Munchausen por Procuração?

Considerada uma doença mental, foi originalmente descrita em 1977 por Sir Roy Meadow, pediatra, que a definiu como sendo uma forma de abuso infantil onde os cuidadores provocam de forma deliberada a existência de uma doença em crianças, atraindo a atenção para si mesmas. Se a pessoa tem esse comportamento consigo mesma, trata-se da síndrome de Münchausen; se os sintomas pertencem a outra pessoa, trata-se da síndrome de Münchausen by proxy. Em 85% dos casos, a mãe é o perpetrador da violência contra a criança, e a taxa de mortalidade entre as vítimas é bastante elevado.

O Síndrome de Munchausen é ainda pouco conhecido e difícil de ser diagnosticado, pelo que não se sabe ao certo o número de pessoas que padecem do mesmo. Os especialistas acreditam que as pessoas que sofreram abusos, durante a infância, são mais propensas a desenvolver esta doença.

Caso mais conhecido de Síndrome de Munchausen

O caso mais polémico é, possivelmente, o de Gypsy Rose Blanchard e Dee Dee, a mãe. Natural de Lafourche Parish, Louisiana, Dee Dee (Clauddine Blanchard era o seu nome verdadeiro) cresceu numa cidade chamada Golden Meadow com cinco irmãos. Conheceu o pai de Gyspy na escola e namoraram entre quatro a seis meses. Quando ela engravidou, ele tinha 17 e ela 24. Casaram. Mas ele descobriu não estar apaixonado por ela e separou-se.

Gypsy Rose nasceu a 27 de julho de 1991, logo depois da separação, e as doenças (ou invenções de doenças por parte da mãe), começaram logo aos 3 meses. Com problemas tanto com a família como com a polícia, mudou-se com a filha para Slidell e ali viveram em casas do Governo. Em 2005, Slidell foi atingida pelo furacão Katrina e as duas sobreviveram, embora tivessem perdido a casa. Procuraram abrigo em Covington, num sítio para pessoas com necessidades especiais, e ali conheceram uma médica da região dos Ozarks, que sugeriu que estas se mudassem para o Missouri.

Alugaram uma casa na cidade de Aurora, e ali moraram até março de 2008, quando se mudaram para a casa construída pela Habitat for Humanity, em Springfield. A casa tinha adaptações especiais para a menina doente. Uma rampa na entrada e uma banheira de hidromassagem especial para ajudar com os músculos de Gypsy.

Dee Dee e Gypsy Rose
Dee Dee e Gypsy Rose

Gypsy Rose sofria de várias doenças inventadas pela mãe

As doenças de Gypsy multiplicavam-se. Asma, epilepsia, problemas de aprendizagem, apneia do sono, distrofia muscular, alergia ao açúcar e leucemia. A menina andava de cadeira de rodas, tinha o cabelo rapado e era alimentada por um tubo. Estudava em casa porque, segundo a mãe, jamais conseguiria acompanhar os colegas e tinha a idade mental de uma criança de sete anos. A menina andava sempre vestida de princesa e usava perucas para esconder a cabeça rapada. A sua favorita era a da Cinderela.

De acordo com os registos, de 2005 a 2014, Dee Dee levou a filha ao hospital mais de 100 vezes. Foi submetida a várias cirurgias oculares, gastrointestinais e até lhe retiraram as glândulas salivares.

«Tiraram-me as glândulas salivares porque a minha mãe dizia que eu me babava. Tinha um tubo de alimentação na minha barriga, fiz várias operações aos olhos, tanto ao direito como ao esquerdo. Operações às orelhas, biópsias aos músculos para perceber porque é que as minhas pernas não funcionavam, uma operação para deixar de vomitar. Eu acreditei que tinha essas doenças todas, exceto que sabia que podia andar e comer.»

Gypsy não sabia que idade tinha

Gyspy não sabia sequer a sua idade verdadeira. No dia em que completou 18 anos, o pai ligou para a filha para a congratular e Dee Dee pediu-lhe para mentir, fazendo-a acreditar que tinha 14. Dee Dee segurava constantemente a mão da filha, apertando-a cada vez que esta dizia ou fazia algo que não devia. Esta era apenas uma das formas que a mulher tinha para controlar a filha.

Dee Dee era mãe solteira e sensibilizou muita gente enquanto única cuidadora de uma criança com (supostamente) tantos problemas. Problemas esses que foram inventados e mantidos como farsa até aos 19 anos de Gyspy. Dee Dee não trabalhava para cuidar da filha a tempo inteiro e arranjava dinheiro de mil e uma formas.

«Ela disse-me que tinha cancro e rapava-me o cabelo dizendo: ‘Ele vai cair de qualquer forma, portanto vamos mantê-lo bonito e aparado’. Ela disse-me que eu não conseguia comer e precisava de um tubo de alimentação», contou Gypsy num programa do ID Documentary.

Dee Dee e Gypsy Rose

Ao longo do crescimento, a jovem apercebeu-se que era saudável

Mas não foi fácil para Dee Dee manter a farsa. À medida que crescia, Gyspy apercebe-se que, pelo menos, consegue andar e comer, não necessitando nem do tubo de alimentação, nem da cadeira de rodas. Ainda que Dee Dee já desconfiasse não padecer de nenhuma doença, a mãe mantinha-a demasiado vigiada para que a filha se pudesse libertar das mentiras.

Mais tarde, foi na Internet que Gypsy encontrou ‘salvação’. E o amor. Achava ela. Ia para o computador enquanto a mãe dormia, acabou por conhecer Nick Godejohn no site ChristianSingles.com e não mais quis viver a vida de farsa que descobrira viver. Mantiveram uma relação à distância, durante três anos e Gyspsy acabou por lhe contar a vida de enclaustramento que levava. A junho de 2015, já Gypsy tinha 23 anos, Nick aceitou a sugestão da namorada e esfaqueou Dee Dee nas costas.

Gypsy e Nick foram presos e acusados do homicídio de Dee Dee. Ela foi condenada a dez anos de prisão no Chillicothe Correctional Center, Missouri. Nick, de 29 anos, foi condenado a prisão perpétua. Quando ela sair, em 2023, terá 32 anos.

A história de Gypsy Rose Blanchard é contada na série The Act, da Hulu, que chegou a 20 de março à HBO. Patricia Arquette interpreta Dee Dee e Joey King, Gypsy.

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