Três menores condenados à pena de morte por lutarem contra a repressão na Arábia Saudita

Ali, Abdalá e Dawud foram condenados à pena de morte ainda antes dos 18 anos por terem participado em protestos contra o regime saudita.

Três menores condenados à pena de morte por lutarem contra a repressão na Arábia Saudita

Corria o ano de 2010, quando ocorreu uma onda de protestos no Médio Oriente e no Norte de África contra a repressão, corrupção e censura dos regimes autoritários. Ali, Abdalá e Dawud foram três dos muitos rostos que participaram nestes protestos também conhecidos por Primavera Árabe. Os três jovens foram detidos, quando ainda eram menores, e condenados à pena de morte.

O destino dos jovens é aguardado atrás das grades. Por lá passaram a adolescência e agora aguardam a execução. Mas não é só isso que os espera. Os corpos de Ali, Abdalá e Dawud serão, depois de executados, expostos em público e com a cabeça separada do corpo.

A detenção dos três menores

Segundo o El Mundo, os jovens foram detidos em contexto de grande violência. Ali foi atropelado por um carro da Polícia. Abdalá foi baleado e espancado. Dawud foi detido quando estava no hospital à espera para ser operado (a intervenção nunca ocorreu).

Ali foi preso, em 2012, aos 17 anos, acusado de «organizar protestos com o seu Blackberry, de tirar fotografias das manifestações, de ensinar primeiros socorros aos participantes e de cantar contra o Estado». O espírito de luta e reivindicação acompanhou o crescimento do jovem. O pai é empresário e jornalista e o tio é uma figura dos protestos e exigiu reformas políticas, o fim da discriminação e corrupção no reino.

«O Ali vive num estado de pânico. Cada vez que abrem a porta da sua cela, pensa que chegou o seu momento», afirma o advogado, Taha al Haji. A defesa de Ali foi também vítima de repressão por representar o jovem. Atualmente, encontra-se exilado na Alemanha.

Abdalá tinha 15 anos quando foi para trás das grades. Terá sido baleado e espancado pelas autoridades antes de ser detido. Depois, esteve incomunicável nos primeiros três meses, foi torturado e obrigado a assinar uma confissão que não conseguia ler.

Dawud foi preso em 2012 quando tinha 17 anos e terá sido forçado a assinar uma folha de papel branca que mais tarde foi usada pelos funcionários para incluir a sua suposta confissão.

«Nenhum deles foi acusado de crimes de sangue. A única acusação que há é a de terem tentado a agitação, quebrado a paz social e reclamado a queda do regime», acrescenta o advogado de Ali, citado pelo jornal espanhol.

 

Quarto jovem detido conseguiu fugir

Murtaja Qureiris foi detido em 2014, aos 13 anos. Aos 10 anos, terá levantado um megafone e gritado: «As pessoas exigem direitos humanos!». Foi detido por participar em protestos anti-governamentais, ir a um funeral de um ativista anti-governamental (o seu irmão), posse de arma de fogo, lançamento de cocktails molotov e pertença a uma organização terrorista. Foi considerado o mais jovem preso político do país. Entretanto, Murtaja não será executado e pode ser libertado até 2022.

«As notícias de que Murtaja Qureiris não vai enfrentar a execução são um grande alívio para ele e para a sua família, mas é um ultraje que as autoridades da Arábia Saudita tivessem procurado a pena de morte para alguém que foi preso inicialmente com 13 anos. O uso da pena de morte contra pessoas que tinham menos de 18 anos na altura do crime é uma violação flagrante da lei internacional», referiu a Amnistia Internacional em comunicado.

No entanto, «a lei na Arábia Saudita continua a permitir que as pessoas sejam presas por crimes que cometeram quando eram crianças e sentenciadas à pena de morte», acrescenta a organização.

Só em abril deste ano, a Arábia Saudita decapitou 37 homens acusados de alegados crimes de terrorismo. O responsável da ONU pelos direitos humanos revela que a maioria das pessoas podem não ter tido julgamentos justos. Deste número, pelo menos três dos mortos eram menores quando conheceram a sua sentença.

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