Moçambique/Ataques: Retirada das tropas da SADC vai exigir “reposicionamento” em Cabo Delgado – analistas

A retirada da missão militar da Comunidade de Desenvolvimeto África Austral (SAMIM) da província de Cabo Delgado vai obrigar a um “reposicionamento” das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas na luta contra os insurgentes, disseram à Lusa dois analistas.

Moçambique/Ataques: Retirada das tropas da SADC vai exigir

A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Verónica Macamo, disse, no último sábado, que a SAMIM, que apoia Moçambique no combate a grupos rebeldes em Cabo Delgado, norte do país, vai abandonar o país devido a limitações financeiras.

Para o analista moçambicano Fernando Lima, a saída dos militares da África Austral não é inesperada e vai exigir um “reposicionamento” das FDS moçambicanas para a ocupação das áreas que têm sido protegidas pelo contingente militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

“É idóneo acreditar que o Governo moçambicano se preparou para este novo quadro, porque há muito que a SAMIM anunciou que a sua presença em Cabo Delgado era a prazo”, afirmou Lima.

O exército moçambicano, prosseguiu, terá uma “nova projeção em termos de ocupação de território, para que os insurgentes não realizem ataques nas áreas deixadas pelos militares da SADC e que não tentem ocupar território”.

Fernando Lima notou que se prevê um “desdobramento” das forças do Ruanda nas zonas onde ainda estão as tropas da SADC, caso as FDS moçambicanas mostrem dificuldades de conter a ação dos grupos armados que atuam em Cabo Delgado.

O analista e antropólogo Gil Lauriciano considerou, igualmente, que as autoridades moçambicanas se prepararam para “um redimensionamento militar” face à retirada da SAMIM, porque se trata de um cenário já há muito anunciado.

“Terá de haver uma adaptação por parte das forças governamentais moçambicanas, para uma nova fase sem a SAMIM”, assinalou Lauriciano.

A presença de forças estrangeiras em Cabo Delgado tem permitido tempo para uma melhor preparação das Forças Armadas moçambicanas na luta contra os insurgentes, acrescentou.

“Seria um enorme desperdício se as forças governamentais não aproveitassem a presença de parceiros para melhor se apetrecharem contra os grupos terroristas”, enfatizou Gil Lauriciano.

Lauriciano alertou, contudo, que, a curto prazo, pode haver uma pressão dos insurgentes nas áreas que serão deixadas pela SAMIM, mas as FDS terão capacidade de reagir, porque já tinha sido anunciada a saída das forças da SADC.

A missão da SADC em Moçambique está em Cabo Delgado desde meados de 2021 e, em agosto de 2023, a organização regional aprovou a prorrogação da missão da SAMIM por mais 12 meses, até julho de 2024, prevendo um plano de retirada progressiva das forças dos oito países da região que a integram.

A SAMIM compreende tropas de oito países da SADC, nomeadamente, Angola, Botsuana, República Democrática do Congo, Lesoto, Maláui, África do Sul, República Unida da Tanzânia e Zâmbia, trabalhando em colaboração com as FDS e com um contingente militar do Ruanda.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência, que desde dezembro voltou a recrudescer com vários ataques à populações e forças armadas, levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio, primeiro do Ruanda, com mais de 2.000 militares, e da SADC, libertando distritos junto aos projetos de gás.

PMA // MLL

By Impala News / Lusa

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