Mulher estrangulada até à morte ignorada por médicos e GNR
Especialistas em violência doméstica criticam atuação de entidades num caso em que marido deixou mulher estrangulada.
Ilda Coelho foi vítima de violência doméstica ao longo de mais de 20 anos de casamento, noticia o JN desta sexta-feira, 29 de maio. António Maria Sousa, marido, proibiu-a de ter telemóvel até o filho ter ido para a universidade. Quando Ilda emigrou para fugir às agressões físicas e psicológicas, António forçava a mulher a fazer videochamadas de mais de quatro horas. A vítima denunciou a violência à médica de família e à GNR de Amarante. Ninguém a ajudou.
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Relatos de violência doméstica incluem ter sido amarrada pelo pescoço a uma corrente presa ao teto
Após os 50 anos de idade, a mulher foi «estrangulada, arrastada da sala à adega da casa onde vivia e amarrada pelo pescoço a uma corrente presa ao teto que a manteve suspensa» até ser encontrada já. O homicida, de 61 anos, também foi descoberto sem vida, enforcado numa árvore. O crime ocorreu em novembro de 2017, depois de a vítima ter voltado a Portugal para tentar reconciliar-se. O caso foi agora estudado pela Equipa de Análise Retrospetiva de Homicídio em Violência Doméstica (ARHVD), que encontrou falhas das instituições em processos de violência doméstica.
«Não foi efetuado qualquer registo do conflito familiar nem tomadas iniciativas», aponta a ARHVD
«Consideramos que existiram, pelo menos, duas ocasiões em que Ilda Coelho e António Maria Sousa estiveram em contacto com entidades com responsabilidades na ação pública contra a violência doméstica, que constituíram oportunidades de intervenção não aproveitadas», lê-se no relatório da ARHVD. A primeira oportunidade apontada data de 2015, quando a vítima e o filho «pediram ajuda à médica de família e em que o homicida foi diagnosticado como “doente com traços de personalidade paranoides e sintomatologia delirante de ciúme” e encaminhado para consulta de psiquiatria, a cujo tratamento não aderiu». «Não foi, contudo, efetuado qualquer registo do conflito familiar nem tomadas iniciativas», aponta a ARHVD. A segunda oportunidade assinalada ocorreu quando marido e mulher estiveram no posto da GNR, embora não tenha sido «efetuado qualquer registo do incidente».
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