Norte-coreanos forçados a subornar para sobreviver
Denuncia partiu das Nações Unidas e constam num relatório divulgado esta terça-feira.
Os norte-coreanos são forçados a pagar subornos a funcionários estatais para sobreviver e vivem diariamente num «ciclo vicioso de privação, corrupção e de repressão», denunciam as Nações Unidas num relatório divulgado esta terça-feira, 28 de maio. A organização internacional diz no relatório que o suborno é «um recurso diário da luta das pessoas para fazer face às despesas» e que faz parte de um sistema que legitima as violações dos direitos humanos.
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O documento, divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e citado pelas agências internacionais, relata que muitas pessoas pagam subornos em dinheiro ou em géneros, por exemplo em cigarros, para não comparecerem em empregos designados pelo Estado norte-coreano, pelos quais não recebem qualquer remuneração monetária.
As pessoas ficam assim livres, conta a organização, para trabalharem e ganharem dinheiro em mercados informais, que proliferam no país devido ao fracasso do sistema público em distribuir produtos básicos. O relatório afirma que uma carente reforma do Estado e o atual código criminal do país permite que funcionários estatais norte-coreanos possam extorquir dinheiro ou outro tipo de favores a pessoas que trabalham nestes mercados informais e improvisados, recorrendo, por exemplo, a ameaças de detenção e de prisão.
«As pessoas na Coreia do Norte estão presas num ciclo vicioso, no qual o fracasso do Estado em suprimir as necessidades básicas da vida as obriga a recorrer a mercados informais, onde enfrentam um conjunto de violações dos direitos humanos num ambiente legal indefinido», reforça a organização, num comunicado.
A Coreia do Norte, oficialmente uma república socialista, decidiu legalizar e regulamentar alguns destes mercados informais desde que o seu sistema de racionamento público entrou em colapso, em virtude de uma crise económica e de um cenário de fome que remonta a meados da década de 1990.
O relatório da ONU avança ainda que outros norte-coreanos subornam guardas fronteiriços para conseguir passar para a China, sendo que vários são posteriormente repatriados à força para a Coreia do Norte. De acordo com a ONU, este relatório foi elaborado com base nos testemunhos presenciais de 214 norte-coreanos que fugiram daquele país, principalmente das províncias de Ryanggang e North Hamgyong (norte), e que vivem, na maioria, na vizinha Coreia do Sul.
A maioria dos entrevistados deixou a Coreia do Norte já durante a liderança de Kim Jong-un, que assumiu o poder em finais de 2011. «Se uma pessoa tiver dinheiro, pode safar-se de qualquer coisa, incluindo de homicídio», afirma um dos desertores norte-coreano, cuja identidade não é revelada, citado no relatório da ONU.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos informa ainda que não tem acesso ao território norte-coreano para investigar de forma independente o panorama dos direitos humanos naquele país.
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