Otto Warmbier, o homem que ficou em estado vegetativo após roubar cartaz na Coreia do Norte

O excelente aluno Otto Warmbier ficou em estado vegetativo após roubar um cartaz de cariz político num hotel na Coreia do Norte. Há várias suspeitas, mas poucas certezas.

Otto Frederick Warmbier nasceu no dia 12 de dezembro de 1994 em Cincinnati, nos Estados Unidos. Otto teve uma boa vida infância e adolescência. Era descrito como popular, estudioso, atlético – fazia parte das equipas de futebol e natação – e carismático. Após ter concluído o secundário com a segunda melhor média, conseguiu uma bolsa para a Universidade de Virgínia, onde entrou no curso de Comércio e Economia, com o objetivo de se tornar bancário. Interessado por outras culturas viajou até países como Israel, Cuba ou Equador. No final de 2015, decidiu que seu próximo destino seria a Coreia do Norte.

Assim, reservou uma viagem com a agência de viagens Young Pioneer Tours, cujo slogan era “destinos que a tua mãe preferiria que ficasses longe”. Inicialmente, os pais de Otto não gostaram da ideia. Contudo, a mãe disse que teve em consideração o mérito do filho na sua vida académica e familiar para permitir a viagem. “Por que diria não a um jovem como este?”, explicou. Então, em dia 29 de dezembro, embarcou – juntamente com dezenas de outros estudantes – num avião com destino aquele país asiático. Passaram a viagem de cinco dias a passear pela capital Pyongyang, por zonas permitidas a turistas.

Na noite de Ano Novo, o grupo saiu para beber num bar e depois festejou numa praça com a população local. Após voltarem para o Hotel Internacional Yanggakdo, os turistas foram aproveitar as diversas atividades oferecidas pelo estabelecimento – com exceção de Otto. O jovem não foi visto até os colegas de quarto terem voltado, por volta das 4h30 do dia primeiro, e o encontrarem a dormir. O grupo deixou Pyongyang no dia seguinte – com exceção, mais uma vez, do jovem, que foi levado pelas autoridades do aeroporto. Danny Gratton, britânico que ficou amigo de Otto durante a viagem, testemunhou os últimos momentos de liberdade do jovem. “Dois guardas aproximaram-se e simplesmente deram um toque no ombro dele e levaram-no embora. […] Essa foi a última vez que o vi pessoalmente”.

Otto detido por “ato hostil contra o Estado”

Gratton também relembrou as últimas palavras que disse ao amigo: “Bem, essa é a última vez que te vamos ver”, lamentando agora a ironia mórbida da expressão. Antes de o grupo deixar o terminal, foi-lhes dito que Otto estava doente e que teve de ser levado ao hospital. Contudo, dias depois, a Agência Central de Notícias da Coreia anunciou que Otto Warmbier tinha sido detido por “ato hostil contra o Estado“. A natureza da infração só foi revelada publicamente em 29 de fevereiro de 2016. Numa conferência de imprensa, Otto leu uma declaração – alegadamente preparada pelo governo norte-coreano – em que confessou ter entrado numa área restrita do hotel e tentado roubar um cartaz de cariz político.

O jovem explicou que tinha sido enviado por uma entidade chamada Sociedade Z, em colaboração com o governo norte-americano, com a missão de “prejudicar a unidade e a motivação do povo da Coreia do Norte” e “insultar o país em nome do Ocidente”. Também mencionou o envolvimento da Agência Central de Inteligência estadunidense e da Igreja Metodista – embora fosse judeu. Acredita-se que a nota de confissão foi redigida por autoridades norte-coreanas, segundo relatos de norte-americanos submetidos a situações semelhantes.

No dia 16 de março de 2016, o político Bill Richardson reuniu-se em Nova Iorque com dois diplomatas norte-coreanos do escritório da ONU para deliberar sobre a libertação de Otto. No mesmo dia, o jovem foi julgado perante o Supremo Tribunal da Coreia do Norte. No julgamento, que durou menos de uma hora, foram apresentadas diversas evidências: a sua confissão, imagens de câmaras de segurança do hotel, o testemunho do funcionário que denunciou o ato inicialmente e as suas impressões digitais terem sido encontradas no cartaz. Efetivamente, os vídeos mostram que alguém entrou na área restrita e removeu o cartaz da parede e coloco-o no chão. No entanto, a qualidade [ou falta dela] das imagens de videovigilância não permitisse validar a identificação do suspeito. Ainda assim, o conjunto de provas resultou na condenação de Otto.

Otto condenado por “conspiração para derrubar o governo”

Otto foi condenado pela violação ao artigo 60 do Código Penal norte-coreano, que tipifica o crime de “conspiração para derrubar o governo“. A pena foi de 15 anos de trabalhos forçados. Durante mais de um ano, oficiais de ambos os países continuaram a negociar a libertação do jovem. Finalmente, em 13 de junho de 2017, Otto foi libertado e regressou aos Estados Unidos. Porém, este regresso foi tudo menos feliz. A verdade é que menos de uma semana depois, morreu. Só teve tempo para se despedir da família e dos amigos.

Quando chegou ao Estados Unidos, estava em coma, que já durava há mais de um ano. Relatórios médicos norte-coreanos apontaram que ele teria contraído botulismo, uma intoxicação rara causada pelas toxinas produzidas pela bactéria anaeróbia Clostridium botulinum, pouco depois de ter sido condenado. Terá entrado em coma no dia seguinte ao julgamento, após ter tomado um comprimido para dormir. Ressonâncias magnéticas realizadas em abril e julho de 2016 já apontavam danos no cérebro. Otto estava em estado vegetativo persistente, sendo capaz de piscar e respirar, mas sem consciência do que acontecia à sua volta. Novos exames revelaram que tinha perdido parte significativa do tecido cerebral.

Tribunal deu razão à versão apresentada pela família

Um especialista apontou que pode ter tido origem numa paragem respiratória, mas descartou a hipótese de Otto ter contraído botulismo. Por outro lado, vários neurologistas garantem que esta intoxicação rara era realmente uma possibilidade plausível. Em 19 de junho de 2017, a família optou por remover o tubo de alimentação de Otto, tendo o óbito sido declarado às 14h20. Os pais dizem que foi vítima de abusos e tortura enquanto estava preso. A família entrou com uma ação por danos materiais e morais, no valor de mil milhões de euros pela morte de Otto perante o Tribunal Distrital de Columbia.

O tribunal entendeu que o jovem foi vítima de tortura e condenou a Coreia do Norte a pagar uma indemnização de 500 milhões de euros. No entanto, Trump negou que os Estados Unidos tenham ficado encarregues da dívida. Da mesma forma, a Coreia do Norte não pagou a indemnização e, como não há nenhum meio de executar tal débito, a família recebeu apenas uma fração do valor de um fundo público de ressarcimento a vítimas. O estudante chegou “cego, surdo e em morte cerebral“. Os dentes terão sido  desalinhados com ferramentas de tortura e a cicatriz no pé seria resultado de choques elétricos, sustenta o tribunal. A opinião dos juízes teve por base exames realizados por médicos contratados pela família Warmbier.

A Coreia do Norte foi notificada, mas não apresentou qualquer tipo de defesa formal. Por outro lado, os médicos que o examinaram após o seu regresso não encontraram evidências de tortura ou outras formas de violência. “Não foi encontrada nenhuma evidência de fraturas curadas ou em recuperação”. Além disso, a equipa médica revela que que o corpo e a pele de Otto estavam em ótimas condições. Michael Flueckiger, médico que fez parte da equipa de resgate, foi da mesma opinião.

Fotos: Reprodução Twitter CrimesReais

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