Padre do Funchal confessou abuso sexual contra menor, tentou entregar-se, mas não foi recebido

Padre Anastácio Alves estava desaparecido desde 2018, após ter sido alvo de queixa por crimes de abuso sexual contra um menor. Esta quinta-feira, 16 de fevereiro, assumiu os crimes, tentou entregar-se na PGR. Mas não o receberam.

Padre do Funchal confessou abuso sexual contra menor, tentou entregar-se, mas não foi recebido

O Padre madeirense Anastácio Alves – que desapareceu em 2018 após ter sido alvo de queixa por crimes de abuso sexual contra um menor – tentou entregar-se esta quinta-feira, 16 de fevereiro, na Procuradoria-Geral da República (PGR) para “assumir” as suas “responsabilidades”, mas acabou por não ser recebido e continua em liberdade, avança o jornal Observador.

Leia depois
Vítimas de abusos sexuais na Igreja pedem ajuda a associação após relatório
A associação Quebrar o Silêncio, de apoio a homens vítimas de abusos sexuais, recebeu cinco pedidos de ajuda de vítimas da Igreja católica nos últimos três dias, apontando que as notícias estão a deixar as vítimas em crise (… continue a ler aqui)

O padre chegou à PGR para ser constituído arguido e notificado da acusação do Ministério Público, que lhe imputa cinco crimes. Mas acabou por sair pelo seu próprio pé com a indicação que devia dirigir-se ao tribunal do Funchal.

Padre quer “ajudar a auxiliar as vítimas”

“Estou cá, pode parecer banal, mas é sincero, primeiro que tudo para colaborar com a Justiça, para assumir as minhas responsabilidades, e também para ajudar a auxiliar as vítimas”, disse, na única declaração permitida pelos advogados, ao Observador.

De acordo com o mesmo jornal, o padre madeirense foi acompanhado pela equipa de advogados, composta por Miguel Santos Pereira, o irmão deste Bruno Pereira e antigo inspetor da Polícia Judiciária, João Sousa, que está a ser investigado por alegadamente ter forjado provas no caso de Rosa Grilo.

O grupo saiu, então, da PGR e teve de ir para o Gabinete de Documentação e Direito Comparado, onde se trata a cooperação internacional, uma vez que o processo tinha passado para essa ala. Mas nem aí foi recebido. Depois, Anastácio Alves e os advogados voltaram a dirigir-se para a PGR, onde tentaram ser recebidos pela procuradora Lucília Gago, também sem efeito. E acabaram por ser informados de que o padre teria, afinal, que deslocar-se à Madeira, onde está o tribunal competente pelo seu processo.

“Estamos perante um caso que já não está em investigação, não faz sentido ir a um órgão de polícia criminal. Percebemos que isto não é o normal, mas basta ver a lei”, explica o advogado Miguel Santos Pereira ao Observador. “Fica difícil para um advogado e para o seu constituinte colaborar com a Justiça quando a Justiça não quer colaborar”, remata.

Agora a defesa vai agora fazer um requerimento ao Ministério Público do Funchal para que o padre madeirense possa ser constituído arguido e notificado da acusação em Lisboa.

Após investigações, a Igreja mudou-o de país

Anastácio Alves é acusado de cinco crimes de abuso sexual de menor e de ato sexual com um adolescente por ter abusado de um rapaz quatro vezes quando este tinha 13 anos e uma quinta vez, em 2017, quando este já tinha 14 anos (o que tipifica o crime como ato sexual com adolescente). Os abusos aconteceram na casa dos avós do rapaz, onde o padre costumava jantar, sendo que o caso só seria denunciado quando o Anastácio já estava ao serviço de uma comunidade portuguesa perto de Paris.

Anastácio Alves já tinha sido investigado em 2005, mas a diocese apenas o mudou de paróquia. Em 2007 houve nova investigação, e o bispo ordenou que o padre mudasse de país, tendo passado pela Suíça e pela França. Só em 2018 foi acusado à revelia, altura em que começou o processo de fuga, e em 2019 pediu dispensa do sacerdócio.

Vivia atualmente em São Martinho do Porto numa casa arrendada em nome de uma familiar, perto de um posto da GNR.

Foto de OMELI PODCAST na Unsplash

Impala Instagram


RELACIONADOS