Piloto que matou duas pessoas em praia na Caparica omitiu doença mental

O piloto da avioneta que aterrou de emergência na praia de São João da Caparica, em agosto de 2017, e que matou dois banhistas, é acusado de duplo homicídio

O piloto da avioneta que, em agosto de 2017, aterrou de emergência na praia de São João da Caparica, matando dois banhistas – Sofia António, de 8 anos, e José Lima, de 56 – omitiu doença mental nas renovações da licença e exames médicos.

Piloto reformou-se por invalidez da TAP

O quadro depressivo foi omitido pelo piloto para que continuasse a dar aulas de aviação. Carlos Conde D’Almeida reformou-se da TAP, em 1993, por invalidez, causada pelo síndrome depressivo, e foi dado, pela junta médica da Segurança Social, em 2012, como incapaz de exercer a profissão por «sofrer de perturbação de ansiedade generalizada». Segundo o Correio da Manha, que cita o despacho do Ministério Público de Almada, o piloto omitiu a doença mental nas renovações da licença e exames médicos.

De acordo com a mesma publicação, o MP acusa o piloto de «violar as regras de aviação», «sabendo que sofria de doença (…) tinha a obrigação de ter comunicado aquando da revalidação do seu certificado médico, a fim de ser sujeito a uma avaliação psiquiátrica que o considerasse apto ou não apto». Carlos Conde D’Almeida «voava sem se encontrar em condições para o fazer por força da doença».

Carlos Conde D’Almeida é acusado de duplo homicídio

O piloto da avioneta, Carlos Conde D’Almeida, é um dos arguidos do processo e é acusado de dois homicídios por negligência e um crime de condução perigosa de meio de transporte por ar. Os outros suspeitos – três funcionários da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) e três elementos da escola de aviação Aerocondor , onde pertence a avioneta, – respondem por um crime de atentado à segurança de transporte por ar.

Aluno que seguia com piloto é ilibado

O piloto aluno que seguia na avioneta estava em voo de treino. Sem que Carlos Conde D’Almeida o tivesse instruído, o jovem, de 27 anos, acendeu e apagou as luzes, alertando os banhistas para que começassem a correr. O MP arquivou os crimes contra o aluno.

Falhas do piloto matam duas pessoas

Falhas na gestão da emergência e quebra de procedimentos pelo piloto instrutor levaram à aterragem da avioneta numa praia da Costa de Caparica, Almada, em agosto de 2017, causando a morte a duas pessoas, concluiu a investigação. A 2 de agosto, um avião ligeiro, bilugar, modelo Cessna 152, descolou do Aeródromo de Cascais com destino a Évora, para um voo de instrução, mas depois de reportar uma falha de motor, cerca de cinco minutos após a descolagem, fez uma aterragem de emergência no areal da praia de São João, durante a qual atingiu mortalmente uma menina de 8 anos e um homem de 56.

«Após a falha de motor, ficou claro que o piloto instrutor não efetuou uma gestão apropriada da emergência, onde deveria ter seguido os procedimentos básicos de emergência, e não procurando apenas uma solução para o problema da falha do motor», diz o relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve acesso.

Ficou claro para os investigadores «a falta de preparação» do piloto

Apesar das horas de voo e experiência (mais de 5.000 horas de voo, das quais 3.930 em Cessna 152), ficou claro para os investigadores «a falta de preparação» e «falhas na formação aeronáutica» do piloto instrutor, à data com 67 anos, «tendo a escola um papel chave, não criando as devidas barreiras para evitar o acidente».

A falha do motor em voo gerida «de forma inadequada pelo piloto instrutor» culminou na perda de controlo da aeronave, por perda aerodinâmica, admitindo o GPIAAF «que a perda de potência do motor» tenha tido origem numa falha detetada no carburador, que impediu o fornecimento de combustível suficiente ao motor.

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