População regressa a Macomia após fuga devido a novos ataques em Moçambique

Alguns populares que fugiram de novos ataques, na última semana, em duas localidades do distrito de Macomia, no norte de Moçambique, estão a regressar, disseram hoje à Lusa fontes das comunidades locais.

População regressa a Macomia após fuga devido a novos ataques em Moçambique

Trata-se de pessoas que fugiram devido a ataques registados na localidade de Pangane e Posto Administrativo de Mucojo, 40 quilómetros da sede do distrito central de Macomia, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

“Estou a voltar para Pangane. Estava em Macomia, desde o dia 30 de dezembro. Preciso ver a minha machamba”, disse à Lusa uma mulher de 47 anos, à espera de transporte de passageiros na vila sede de Macomia no meio de outros residentes.

Além do regresso da população, os transportes de passageiros também estão a circular nos troços Macomia-Mucojo e Mucojo – Pangane, apesar de algum receio.

“Se a população está a voltar, eu também tenho de voltar, sei que não é fácil conviver com os rebeldes, mas não tenho outra escolha”, disse um motorista que se encontrava a recolher passageiros com destino a Mucojo e Pangane, a partir da sede de Macomia.

Apesar do regresso, a população está ainda com medo de novas incursões rebeldes.

“Eu vou porque lá está a minha machamba, mas prevalece o medo, os meus filhos todos ficaram na sede de Macomia”, lamentou um homem de 58 anos de idade, pai de cinco filhos.

De acordo com o levantamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM), entre 26 e 28 de dezembro, mais de 430 pessoas fugiram de Mucojo e Pagane, distrito de Macomia.

O grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou em 31 de dezembro a autoria de um novo ataque em Cabo Delgado, em que afirma terem morrido mais quatro militares, o terceiro do género conhecido em menos de um mês.

Nos mesmos canais, o grupo terrorista apresenta alegadas provas dos confrontos com os militares, que tem vindo a travar em Cabo Delgado recentemente, nomeadamente no distrito de Macomia.

Aquele grupo terrorista reivindicou na sexta-feira um outro ataque em Cabo Delgado em que afirmou terem morrido nove militares.

Antes, em 09 de dezembro, o Estado Islâmico já tinha reivindicado a autoria de outro ataque em que morreram cinco militares, afirmando ainda ter decapitado um cristão, civil.

Os supostos óbitos não foram confirmados pelas autoridades.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu, em 22 de novembro, decisões sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em Cabo Delgado, nomeadamente com reservistas, tendo em conta a prevista retirada das forças estrangeiras que apoiam no terreno contra os grupos terroristas.

São necessárias “decisões concretas sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em relação à sua ação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado no período após a retirada das forças amigas da SAMIM [missão da SADC em Moçambique] e do Ruanda”, pediu Nyusi, na abertura do XXIV Conselho Coordenador do Ministério da Defesa Nacional.

“Para o efeito, a vossa reflexão deve igualmente avaliar a forma de melhor capitalizar o manancial de reservistas, empenhando-os direta ou indiretamente em várias missões em prol da defesa da soberania e integridade territorial do nosso país. E a realidade atual justifica”, acrescentou.

A cimeira da SADC aprovou, em agosto passado, a prorrogação da missão em Cabo Delgado, por 12 meses, até julho do próximo ano. Uma missão de avaliação propôs em julho passado a retirada completa dos militares da SAMIM em Cabo Delgado até julho de 2024, assinalando que a situação na província “está agora calma”, apesar de os riscos prevalecerem.

Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.

RYCE (PVJ) // VM

By Impala News / Lusa

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