Portuguesa de 27 anos raptada em Moçambique
O rapto de uma portuguesa, hoje, junto a Maputo, é o décimo deste ano contra empresários e familiares de várias origens a abalar a “paz de espírito” de quem investe, disse o presidente da Associação Portuguesa de Moçambique.
“Na realidade, todos os empresários em Moçambique estão preocupados, portugueses e de todas as nacionalidades: isto afeta o nosso dia-a-dia, a nossa paz de espírito e faz olhar para o país com mais cuidado”, referiu à Lusa Alexandre Ascenção, ele próprio empresário. “Temos de deixar as autoridades moçambicanas trabalhar, identificar as pessoas que fazem este tipo de raptos e, se possível, que aceitem a ajuda do Estado português”, numa alusão à disponibilidade de apoio à investigação demonstrada noutras ocasiões pelas autoridades portuguesas.
Tal auxílio, “ajudava muito a dar paz de espírito”, referiu. “Estas coisas têm de ser investigadas a fundo: há culpados, têm de ser encontrados”, acrescentou. Alexandre Ascenção receia que o momento de dificuldades económicas que se vive à escala global, com impactos severos em Moçambique, devido à pandemia de covid-19, aumente a probabilidade de pessoas perderem o “discernimento” e cometerem atos desesperados. “A vida tem de continuar, não podemos estar a pensar viver com medo, mas temos de ter cada vez mais cuidado”, defendeu.
Sobre o rapto de hoje, refere que “ninguém faria prever que seriam pessoas alvo, significa que ninguém está livre de ser colocado nesta situação”. A vítima, Jessica Pequeno, 27 anos, é filha de um casal proprietário do restaurante Burako da Velha, onde trabalha, segundo as autoridades. A portuguesa foi raptada por um grupo desconhecido entre as 07:00 e as 08:00 locais (entre as 05:00 e as 06:00 em Lisboa), na rua da sua residência na cidade da Matola, momentos após sair de casa, disse à Lusa a diretora provincial do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic), Benjamina Chaves.
Desde o início de 2020, as autoridades moçambicanas registaram um total de 10 raptos, cujas vítimas são empresários ou seus familiares. Em outubro, um grupo de empresários na cidade da Beira, província de Sofala, centro de Moçambique, paralisou, por três dias, as suas atividades em protesto contra a onda de raptos no país.
A CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique, maior agremiação patronal do país, também já exigiu por diversas ocasiões um combate severo a este tipo de crime e até o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, já pediu mais medidas. Em setembro, o Sernic apresentou à procuradora-geral da República (PGR), Beatriz Buchili, constrangimentos diversos que enfrenta para combater o crime violento, narcotráfico e raptos.
“Existem constrangimentos que o órgão enfrenta no seu dia-a-dia, relativos à exiguidade de fundos, equipamentos, meios circulantes e materiais”, referiu uma nota da PGR. Antes do caso de Jessica Pequeno, um empresário português foi raptado em agosto de 2019, sem que se conheçam outros detalhes além da detenção de dois suspeitos, anunciada em abril deste ano pelas autoridades moçambicanas.
Noutro caso, em novembro de 2018, o empresário português José Caetano, de 51 anos, foi raptado e assassinado nos arredores de Maputo. Na altura, a polícia moçambicana deteve três suspeitos que esclareceram ainda outros raptos entre 2016 e 2017, um dos quais envolvendo um outro empresário português, Aires Simões Alves.
Continua por esclarecer o rapto do empresário Américo Sebastião, levado de uma estação de abastecimento de combustíveis na manhã de 29 de julho de 2016, em Nhamapadza, distrito de Maringué, no centro do Moçambique. Segundo a família do empresário, os raptores usaram os cartões de débito e crédito para levantarem “4.000 euros” e nunca mais se soube do paradeiro da vítima.
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