Rosa Grilo, a cronologia de um crime. Luís Grilo foi dado como desaparecido há um ano
Rosa Grilo e o amante, António Joaquim, são acusados de crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida. O julgamento terá início no dia 10 de setembro.
Há precisamente um ano, a 16 de julho de 2018, Luís Grilo foi dado como desaparecido, depois de a mulher, Rosa Grilo, ter dado o alerta às autoridades. Segundo a investigação, Luís Grilo terá morrido entre o dia «15 e 16 de julho de 2018». Mais de um mês depois, a 24 de agosto, o corpo do triatleta foi encontrado perto de Alcórrego, distrito de Portalegre, a 134 quilómetros de casa. Rosa Grilo e o amante, António Joaquim, foram detidos a 26 de setembro de 2018 sob suspeita do crime, encontrando-se a aguardar julgamento que terá início dia 10 de setembro.
O caso tem vindo a ganhar novos contornos ao longo da investigação, como mostra a seguinte cronologia.
16 de julho de 2018 – Desaparecimento de Luís Grilo
Luís Grilo sai de casa pelas 16h30 para ir fazer um treino de hora e meia a duas horas. Depois seguiria para a piscina com o filho, Renato, de 13 anos. Partiu sem documentos. Levava apenas o relógio e o telemóvel dentro de uma bolsa de plástico no interior da roupa de treino, para proteger o aparelho do suor. Esta foi a versão apresentada por Rosa Grilo às autoridades. Sem notícias do marido, a mulher do triatleta deu conta do desaparecimento à GNR de Castanheira do Ribatejo neste mesmo dia.
18 de julho de 2018 – Telemóvel encontrado
Dois dias depois de Luís Grilo ter sido dado como desaparecido, o seu telemóvel é encontrado na berma da estrada, desligado, fora da bolsa de plástico, em Casais da Marmeleira de Cadafais, Alenquer, a seis quilómetros de casa. A forma como o aparelho foi encontrado mudou o rumo da investigação. As autoridades levantaram a suspeita de o desaparecimento estar associado a um crime.
24 de agosto de 2018 – Corpo de Luís Grilo aparece com sinais de grande violência
A 24 de agosto, pelas oito e meia da manhã, o corpo do triatleta é encontrado numa estrada sem saída, perto de Alcórrego, distrito de Portalegre, a 134 quilómetros de casa. Estava em avançado estado de decomposição, sem roupa e com um saco de plástico na cabeça. O alerta foi dado por um popular que fazia uma caminhada na zona e sentiu um cheiro a putrefação.
Tudo apontava para homicídio. O corpo tinha sinais de grande violência e, após várias perícias ao local, a PJ verifica que o crime não se consumou onde o corpo foi encontrado, porque havia sinais de ter sido arrastado. Dadas estas circunstâncias, a GNR passou o caso para a equipa de Homicídios da Polícia Judiciária. Dois dias depois, a autópsia confirma que o corpo é de Luís Grilo e que as marcas de violência presentes no cadáver foram provocadas por terceiros.
Luís Grilo é descrito por amigos e familiares como um homem com uma vida normal, sem problemas familiares, nem dificuldades financeiras que lhe trouxessem instabilidade. Não existiam motivos para um crime violento.
26 de setembro de 2018 – Rosa Grilo e o amante, António Joaquim, são detidos
Rosa Grilo é detida pela Polícia Judiciária de Lisboa, sob suspeita de ter matado o marido em conluio com o amante, António Joaquim, detentor da arma do crime. A PJ avança que tudo terá acontecido por motivos sentimentais e financeiros, pelo que foi premeditado pelos homicidas. Os dois amantes são acusados de crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida.
Apesar de ter dado o alerta do desaparecimento do marido a 16 de julho e de ter participado nas buscas, Rosa Grilo foi sempre considerada suspeita para os investigadores. A viúva era a única testemunha da alegada saída do marido para ir andar de bicicleta. O próprio treinador de Luís Grilo achou estranho este tipo de treino, uma vez que o triatleta não gostava de pedalar em estrada e tinha feito recentemente uma prova de triatlo na Alemanha, pelo que deveria estar a descansar. Durante os 39 dias em que Luís esteve desaparecido, Rosa Grilo nunca fechou a loja de informática do marido, onde trabalhava como administrativa, o que levantou mais suspeitas da PJ.
Os indícios que tramaram Rosa Grilo
A arma apreendida na casa de António Joaquim continha vestígios de ADN de Luís Grilo. Além disso, também o ADN de Rosa Grilo estava presente no saco e na corda que foi usada para tapar a cabeça do triatleta depois de morto. Após ser detida, Rosa Grilo apresentou uma outra versão dos factos, que mantém até hoje: «não podia contar mais cedo porque estava a ser ameaçada». Diz ainda que o marido terá sido morto com dois tiros, à sua frente, por dois angolanos na cozinha. No entanto, não existem vestígios de sangue nesta zona da casa e, segundo a acusação, foi apenas com um.
«Angolanos» entram em casa de Luís Grilo e matam-no
A 16 de outubro de 2018, Rosa Grilo admitiu numa entrevista dada na prisão, ao Linha Aberta, na SIC, que Luís Grilo foi morto a 16 de julho, segunda-feira, e não no domingo, dia 15. Negando qualquer envolvimento na morte do triatleta, Rosa contou aos investigadores que o marido, antes de desaparecer, tinha feito um negócio com «uns angolanos», que terá «corrido mal». Esses homens estariam, nesta tese ‘mirabolante’, insatisfeitos, e, por isso, terão sido «eles a entrarem na casa para matar» Luís Grilo.
Na manhã de 15 de julho de 2018, segundo Rosa Grilo, dois indivíduos angolanos e um outro homem bateram à porta da casa do casal. Luís Grilo abriu a porta e os três perguntaram pelas «encomendas». Rosa associou logo aos «diamantes» que o triatleta teria trazido de Angola. Como Luís não dava o que os indivíduos queriam, estes terão forçado a entrada e tiraram-lhes a chave da casa de Benavila – a cerca de 130 quilómetros de onde viviam. Só o pai, o tio e a agora viúva é que tinham a chave dessa habitação.
Viúva admite ter retirado a arma a António Joaquim para se proteger dos negócios obscuros do marido
Conforme relatado pela viúva, o casal ficou com as mãos atadas pelos homens e de joelhos na cozinha, tendo sido agredidos por não revelarem onde estavam as «encomendas». Rosa contou à SIC que Luís terá dito que o material estava na «caixa da garagem». O curioso é que nessa mesma caixa foi encontrada a arma do crime, que era da posse de António Joaquim. Rosa admite ter retirado a pistola ao amante, a 5 de julho (altura em que Luís estava em Frankfurt, na Alemanha, para o concurso Ironman), para se proteger, uma vez que sabia dos negócios obscuros do marido.
Com a chave na mão e já com Luís Grilo morto, estes alegados criminosos, de acordo com o relato de Rosa, foram até Benavila, Portalegre. Antes de partirem, o corpo de Luís foi enrolado em lençóis, edredãos e plásticos. Quando o filho do casal, Renato, chegou a casa, tudo parecia já estar intocável e um dos criminosos encontrava-se no andar de cima da habitação. No entanto, o jovem revelou às autoridades que não se apercebeu da presença de estranhos em casa.
Rosa Grilo é coagida a não contar a versão dos factos
Rosa Grilo terá sido coagida por uma das três pessoas que perseguiam Luís, a não contar esta versão mais cedo. A mulher só depois foi apresentar queixa à polícia, devido ao desaparecimento do marido. Rosa Grilo promoveu as buscas policiais pois «não sabia onde estava o corpo» que foi encontrado alguns quilómetros perto dessa casa. Segundo a entrevista ao Linha Aberta, foram esses homens que a mandaram apresentar queixa às autoridades.
Ministério Público atribui autoria do disparo a António Joaquim
O MP atribui a António Joaquim a autoria do disparo sobre Luís Grilo, na presença de Rosa Grilo, no momento em que o triatleta dormia no quarto de hóspedes da casa do casal, na localidade de Cachoeiras, Vila Franca de Xira, para assim assumirem a relação amorosa e beneficiarem dos bens da vítima – 500.000 euros em indemnizações de vários seguros e outros montantes depositados em contas bancárias tituladas por Luís Grilo, além da habitação e da empresa.
O despacho de acusação do MP conta que, em 15 de julho de 2018, os dois arguidos, de 43 anos, após trocarem 22 mensagens escritas em três minutos, «combinando os últimos detalhes relativo ao plano por ambos delineado para tirar a vida de Luís Grilo», acordaram desligar os respetivos telemóveis. Numa hora não apurada, mas entre essa noite e a manhã do dia seguinte, «em execução do plano comum que já haviam acordado há, pelo menos, sete semanas», António Joaquim, na posse de uma arma de fogo municiada, dirigiu-se à casa onde residiam Luís Grilo e Rosa Grilo.
A acusação relata que o arguido entrou na residência «com o conhecimento» da arguida e que ambos se dirigiram ao quarto dos hóspedes, localizado no primeiro andar, onde se encontrava Luís Grilo a dormir. No dia após a morte do triatleta, António Joaquim começou a frequentar a casa de Rosa Grilo, «não obstante estarem em curso diligências tendentes à localização do paradeiro de Luís Grilo por familiares, amigos e autoridades policiais», segundo a acusação.
O MP, em representação do filho menor de Rosa Grilo e do triatleta, apresentou um pedido de indemnização civil de 100 mil euros contra a arguida e António Joaquim.
Irmã de Luís Grilo fica com a custódia de Renato
A 3 de abril, o Tribunal de Família e Menores de Vila Franca de Xira atribuiu a custódia do filho de Rosa à irmã do triatleta, Júlia Grilo. Apesar de a viúva querer que o menino ficasse entregue aos avós maternos, Américo Pina e Maria Antónia, o Ministério Público exigiu que a criança ficasse sob a tutela da irmã da vítima. Ambas as partes pedem a guarda total de Renato.
O julgamento de Rosa Grilo e António Joaquim terá início no dia 10 de setembro no Tribunal de Loures.
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Texto: Jéssica dos Santos
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