Síndrome do pânico «será a doença do ano» por causa da Covid-19
Filósofo e psicanalista dá dicas de como superar a tristeza para não chegar à síndrome do pânico, que pode tornar-se na doença do ano por causa da Covid-19.
Segundo o filósofo, psicanalista e especialista em estudos da mente humana Fabiano de Abreu, viver em épocas em que o pânico se torna cenário, a realidade pode trazer consequências por vezes grave, à saúde dos indivíduos. A síndrome do pânico pode tornar-se na doença do ano, por causa da Covid-19 e das consequências deste surto provocado pelo novo coronavírus.
«O pânico cria realidades alternativas que dificultam a racionalidade. Embora não estejamos, por enquanto, a viver uma situação generalizada de pânico essa situação pode vir a acontecer. Tal cenário pode resultar em efeitos adversos, tanto global como individual», alerta estudioso. A conjuntura atual «favorece o aparecimento de síndromes relacionadas com o pânico» e «o isolamento pode ser a ignição desses transtornos». Por essa razão, «a síndrome do pânico será uma doença que irá afetar muitas pessoas, dada a realidade atual».
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Como a ideia do isolamento pode levar à síndrome do pânico
A ideia de isolamento «causa transtorno», mais ainda se nos depararmos «com a incerteza de quando terminará». «A liberdade global choca com esta nova vivência. As plataformas sociais lançam alertas a todo o momento, saturam de informações que aos poucos nos começa a angustiar, a colocar em nós um mal-estar permanente, uma tristeza instalada. E se, a isso, juntarmos outras condições que já possamos ter, como é o caso das pessoas hipocondríacas, todo o panorama geral piora. Conseguimos imaginar o que será o mundo neste momento para quem sofre deste tipo de síndromes. Nestes casos, o pânico pode chegar a extremos, ultrapassando a barreira, o limite. E isto pode em casos extremos resultar em tragédias.»
«Há casos em Espanha de pessoas a pedirem para serem presas»
A forma como cada um responderá perante esta situação «está relacionada com a personalidade e o percurso de vida», como explica Fabiano de Abreu. «Cada um tem o comportamento reflexivo, de acordo com a sua personalidade, resultado da sua história de vida, experiências e nuances psicológicas. Há quem, em pânico, vá saquear ou atingir o próximo de alguma forma. Em último caso, pode até registar-se o suicídio. A cultura do indivíduo implica nas suas consequências e a cultura vem de uma união de fatores da vida de cada um. Em Espanha, há casos de pessoas a pedirem para serem presas.»
Em alguns indivíduos, «quando confrontados com algo alarmante, o nível de fobia e pânico é tal que chegam mesmo a viver sintomas físicos» de doenças. «Pessoas que tendem a ficar com náuseas, mesmo sem chegar ao vómito, que sentem dormência nos membros, dificuldade de locomoção e formigueiro, entre outras. Convém lembrar que mesmo que os sintomas não estejam relacionados com uma doença mais séria e concreta, estão de facto a acontecer naquele indivíduo. É o pânico a tomar conta dele, a ganhar terreno à racionalidade», explica o psicanalista, que esta semana chegou «a receber inúmeros casos de pessoas que chegaram a desmaiar».
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O perigoso processo de como o pânico pode tornar-se numa doença séria
Outro importante aspecto «é a consequência que o pânico tem a nível mental» e como pode traduzir-se «numa doença mais grave». «O pânico também pode ocasionar problemas mentais e accionar uma doença pré-existente que precisava de um pico no sistema nervoso para aparecer. Também pode ocasionar problemas cardíacos e traumas psicológicos que irão afetar a vida da pessoa. Uma coisa é certa, o pico de pânico resultará numa mudança do indivíduo, seja leve ou mais forte.»
Não há, porém, «ninguém que não possa alterar algo na própria vida» devido a esta experiência. «Somos o resultado dos impactos da história da humanidade, como guerras e surtos de doenças. Este impacto fica impresso no nosso código genético e é passado de geração em geração. Nada, absolutamente nada, do que acontece nas nossas vidas passa despercebido para nossa vida presente ou de futuras gerações.»
Nunca devemos ceder à incerteza
Apesar dos tempos difíceis e de incerteza que se vivem, «ceder-lhes nunca deve ser opção». Devemos, «antes, adaptar-nos à nova realidade e tirar o maior partido possível dela». O filósofo português aconselha a que, «partindo desta conjunção» façamos «pequenas coisas para que a rotina se torne mais leve e proveitosa». Em primeiro lugar, diz, para controlar o pânico «devemos procurar informações de forma consciente». E «avaliar possibilidades e recorrer à nossa inteligência emocional para que com o uso da razão e da racionalidade, possamos avaliar o conteúdo da informação e procurar sempre o lado positivo, mesmo numa tragédia».
«Por exemplo, o coronavírus e a Covid-19 são perigosos? Sim, mas matam menos do que muitas outras doenças. Se nos mantivermos imunes, sobreviveremos. O mundo não vai acabar. No trabalho, a crise preocupa? Faça uma gestão de crise e utilize-a a seu favor. Procure o ponto de equilíbrio para meditar sobre o que terá de ser feito e como encontrar soluções para que seja menos afetado por estes males. Crie outras estratégias. Use o tempo livre para fazer um balanço da sua vida profissional e faça os ajustes necessários. Procure novas opções de negócio. Esteja atento às medidas e leis que o país vai emitindo. Isso dar-lhe-á a sensação (e está de facto) de que a sua vida laboral não está parada e está a lutar por ela.»
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Reforce laços familiares com conversas sem pressa
O psicanalista chama ainda a atenção para o lado familiar, um porto de abrigo sempre seguro. «Use o tempo para reforçar laços familiares. Conversem sem pressa. Façam atividades juntos. Discutam em conjunto planos para o que fazer quando tudo terminar. Procurem lugares em que possam ligar-se à natureza. O jardim de casa ou o de um pequeno parque. Estar em contacto com a natureza é calmante e relaxante e enche-nos de esperança. A maioria das pessoas não têm tempo no dia-a-dia para aproveitar momentos assim.»
Ter uma «atitude positiva em relação às adversidades é sempre a melhor opção, que confere mais força na luta». «Fazer com que cada dia conte e tenha significado» é outro conselho de Fabiano de Abreu. «Vamos encarar estas circunstâncias como dias de fazer um reset e decolocar tudo no lugar, mas sem ceder à preguiça. Devemos manter-nos ativos para que a rotina a que estávamos habituados não desapareça totalmente. Lembre-se de que para tudo na vida há solução. Nós, humanos, passámos por crises e pandemias ao longo da História e sobrevivemos. Desta vez, não será diferente. Somos altamente resistentes e adaptativos. Tantos superaram a primeira e segunda guerras mundiais, tantos passaram pela lepra, pela tuberculose, pela peste bubónica… A vida reiventa-se e revona-se sempre. E assim será desta vez, com em tantas outras, remata o especialista em estudos da mente humana.
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