Stifler’s mom: Uma breve história cultural sobre a evolução das ‘milf’

O filme American Pie celebrizou o termo ‘milf’, através da personagem ‘Stifler’s mom’, interpretada por Jennifer Coolidge. Mas não foi aí que nasceram as milf.

Stifler’s mom: Uma breve história cultural sobre a evolução das 'milf'

Popularizada pelo filme American Pie, a expressão MILF é o acrónimo de Mother I‘d Like to F***k – que, em Português suave, podemos traduzir como ‘mãe com quem gostaria de ir para a cama’. Naquele filme, ficou famosa a mãe de Stifler – Stifler’s mom, mulher madura por quem uma das personagens se enamora arrebatadora e descontroladamente.

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Laura Minor, professora de Estudos da Televisão da Universidade de Salford, explica que o reality show Milf Manor (no canal TLC), lançado em janeiro deste ano, “aumentou o panteão de milfs”. “Embora Stacy seja milf, a mãe de Stifler em American Pie é a mais representativa” desta história de fetiches de miúdos arrebatados por mães maduras. Afinal, por que é que este fascínio cultural e da milf é tão duradouro?

“A milf é uma mãe mais velha considerada sexualmente atraente”, que não deve confundir-se com ‘cougar’, acrescenta Laura, que é “uma mulher de meia-idade que busca relacionamentos com homens significativamente mais jovens”. Em 2003, a banda de rock norte-americana Fountains of Wayne lançou o tema Stacy’s Mom, canção cómica sobre o amadurecimento que se concentra na atração do narrador pela mãe da coleguinha de turma.

Antes da milf popularizada em American Pie, já tínhamos a Sra. Robinson. A personagem de Anne Bancroft em The Graduate (1967) foi descrita como “uma das mães mais irresistíveis da cultura popular”. Regresso ao Futuro (de 1985) apresentou também um enredo divertido – embora desconfortavelmente próximo do incestuoso –, em que um Marty McFly que viaja no tempo se torna o objeto de afeição da versão jovem da sua própria mãe.

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Anos depois, o termo foi “cunhado pela comédia adolescente American Pie” (de 1999), quando uma dos personagens principais faz sexo com a mãe do amigo Stifler (interpretada por Jennifer Coolidge). Milf “torna-se de imediato a característica definidora da personagem”. Em 2016, a cantora Fergie lançou Milf$, que redefiniu o termo como Moms I’d Like to Follow (mães que eu gostaria de seguir, em Português). O vídeo mostrava mães célebres em cenas provocantes, incluindo Kim Kardashian a tomar banho de leite e Devon Aoki a curvar-se ‘ingenuamente’ para colocar o filho numa cadeirinha de bebé.

Esta tentativa de recuperar o termo “foi complicada”, assinala Laura Minor, “pelas imagens muito específicas do vídeo”. “Estas mães célebres podem pagar os melhores cuidados de saúde, bem como tratamentos de beleza para retardar o visível processo de envelhecimento. Estas representações reforçam a mensagem de que as mulheres mais velhas só podem ser consideradas milf (e, por extensão, sexualmente desejáveis) se os seus corpos estiverem de acordo com os ideais de magreza e de juventude”, concretiza.

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Em Beyond Milf – análise do papel da milf na pornografia e na cultura popular – a autora May Friedman afirma que o termo “nega de certa forma o conceito sexual”, posicionando as mães simplesmente como “alvos de atenção sexual” e como meros “objetos sexuais, em vez de participantes ativas”. O que as milfs têm em comum, assinala, é que são “quase sempre brancas, geralmente de classe média a alta e universalmente apresentadas em contextos heterossexuais”.

Jennifer Coolidge na personagem da mãe de Stifler, em American Pie 2, de 2001
Jennifer Coolidge na personagem da mãe de Stifler, em American Pie 2, de 2001

Tudo isto “pode ser dito sobre a mãe de Stacy e sobre a mãe de Stifler”, considera Laura Minor. “Estas milf são posicionadas explicitamente em relação a rapazes adolescentes ou jovens adultos – sendo-lhes negado o nome e definidas apenas pelo status de ‘mães’, aponta. “É a estranheza das perspetivas adolescentes que tornam estes produtos da cultura pop engraçados. E, no entanto, as mães de Stacy, em Milf Manor, e de Stifler, em American Pie, “não foram criadas por pré-adolescentes, mas por homens adultos”. Para algumas audiências modernas, contudo, “a comédia infantil predominante no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 é antiquada e ofensiva”.

Por isso, o reality show Milf Manor provocou tal indignação que “alguns espetadores consideraram o conteúdo sexista e vagamente incestuoso“. A série segue oito mães com idades dos 40 aos 60 anos a tentarem encontrar o amor junto de homens mais jovens numa mansão luxuosa. Como na maioria dos reality shows, é revelada uma reviravolta nos primeiros 15 minutos – as milf têm de namorar com os filhos umas das outras.

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Esta série “difere dos retratos anteriores da milf, mas ainda é desconfortável perante as recentes preocupações da indústria da televisão com igualdade, inclusão e representação feminina“. Ao contrário das milf retratadas pelas mães de Stacy, de Stifler e pela senhora Robinson, vários membros do elenco de Milf Manor são mulheres negras”. “Esta diversidade mostra uma mudança na perceção mencionada de que as milf são quase sempre brancas.”

A mudança mais significativa vem da ascensão do feminismo popular, no qual “a mera presença de mulheres é considerada suficiente para considerar um programa feminista”. Os criadores de Milf Manor usam uma linguagem de empoderamento para justificar o programa. A produtora executiva Daniela Neumann afirma até que “homens mais velhos namoram mulheres mais jovens há gerações e ninguém franze o nariz”. “Agora é a vez de as mulheres se sentirem empoderadas.”

A maior experiência de sempre sobre o desejo humano, realizada em 2011, sugeriu que o apelo das milf está na sua confiança sexual e conhecimento. Estas qualidades são particularmente atraentes para os jovens presos entre a independência infantil e a autonomia adulta. Em The Graduate, por exemplo, Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) regressa a casa da universidade sem nenhum objetivo na vida e em profunda alienação. É a Sra. Robinson quem preenche o vazio provocado pelo desligamento dos pais.

Anne Bancroft no papel de Mrs Robinson, em The Graduate, de 1967
Anne Bancroft em 1967 no papel de Mrs Robinson, em The Graduate

Quando o termo milf começou a ganhar popularidade na década de 1990, os EUA registavam um aumento no número de jovens mães solteiras e o adiamento do casamento e da paternidade. A investigação “também permitiu descobrir que os jovens adultos permanecem em casa dos pais até muito mais tarde do que até aqui”, diz a professora de Estudos da Televisão da Universidade de Salford.

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Laura Minor acrescenta ainda que este panorama “afetou as imagens da família e do subúrbio na televisão e no cinema”. “As mães de Stifler e de Stacy são afinal mães solteiras.” As preocupações com o desenvolvimento interrompido de jovens adultos “aumentaram na recessão pós-pandemia de covid-19 e exacerbou o declínio da saúde mental de adolescentes forçados a ficar em casa” e Milf Manor “baseia-se na proximidade familiar provocada pela pandemia, explorando desconfortavelmente as tensões dessa dinâmica”.

Representações da milf “respondem a mudanças culturais e a ansiedades relacionadas com o crescimento”. Nos anos 1990 e início dos anos 2000, a milf era a imagem branca de classe média do subúrbio. Desde o final dos anos 2000, tornou-se mais diversificada, “embora programas como Milf Manor deixem claro que as condições sócio-económicas incertas ainda estão a afetar a forma como os relacionamentos familiares são retratados na ficção”.

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