Supernanny: «A criança foi humilhada e rotulada»

Psicóloga diz em tribunal que técnicas da «Supernanny» Teresa Paula Marques foram «mal aplicadas» no programa.

Na segunda sessão do julgamento de suspensão do polémico programa da SIC Supernanny, Rute Agulhas, psicóloga clínica e Regina Duarte Silva, presidente do Comité da UNICEF em Portugal, prestaram depoimento.

O tribunal decidiu ainda fazer a visualização à porta fechada do terceiro episódio de Supernanny, que não chegou a ser transmitido pela estação de Carnaxide.

LEIA MAIS: Irmãos viveram vários dias com a mãe e o padrasto mortos em casa [vídeo]

Arrolada como testemunha do Ministério Público, Rute Agulhas, psicóloga clínica há mais de 20 anos, revelou que Teresa Paula Marques, mais conhecida como Supernanny, violou «quase todos os princípios do código deontológico dos psicólogos» e que é inegável que era «impossível que famílias e crianças tivessem dado consentimento informado» sobre como seria o programa.

Programa Supernanny «é instigador de maus-tratos»

A psicóloga destacou que, mesmo tendo em conta que concordaram em ceder os direitos de imagem das criança, os pais «não são donos dos filhos» e que os direitos dos menores «devem ser salvaguardados quando os pais não o conseguem fazer».

No que diz respeito às soluções apresentadas pela Supernanny, Rute Agulhas garante que as estratégias «foram mal aplicadas». Em causa estão as técnicas de time out e a de sistema de economias de fichas, mais conhecida por sistema de reforço positivo.

LEIA MAIS: Irmão gémeo de Diogo Piçarra defende-o e arrasa os portugueses

A especialista ainda alertou para os «riscos elevados» que o programa pode representar para pais que participaram e visualizaram o programa, pois «reduzem a parentalidade a uma receita de cozinha».

Rute Agulhas caracterizou o programa como um instigador de «maus-tratos nas crianças» e potencialmente perigoso para o desenvolvimento dos menores».

Trauma, dinâmica familiar destruída e complicações nas relações com o outro foram alguns dos aspectos nocivos mencionados pela psicóloga. «A criança foi humilhada e rotulada. Esse rótulos depreciativos criam expectativas que podem influenciar o seu futuro»

«Supernanny» é «uma clara violação dos direitos das crianças»

Maria Regina Duarte Silva, presidente do conselho de administração do comité da UNICEF Portugal, reforçou a posição tomada pela instituição, garantindo que o formato «é uma violência e uma clara violação dos direitos das crianças».

Reafirmando o impacto que o programa da SIC pode ter no presente e no futuro dos menores, a presidente referiu que este formato «não representa ou representou um problema em Portugal».

LEIA MAIS: Matou a mãe por causa de um quilo de arroz

Pela proximidade cultural e social, Regina Duarte Silva relembrou a reacção «negativa que países como Reino Unido, França e Alemanha tiveram em relação ao formato». Na Alemanha, em Hamburgo, o programa foi levado a tribunal, tal como está a suceder cá.

A presidente da UNICEF Portugal disse ainda que, «depois de ter visto o mesmo formato noutros países», a Supernanny portuguesa «era mais provocadora da reflexão do que autoritária», aparecendo menos polémica do que em outros países, como Estados Unidos.

Além das declarações prestadas pelas testemunhas, a SIC pediu para que fosse feita uma comparação entre Supernanny e outros programas que envolvem crianças já transmitidos pela televisão portuguesa, como concursos de talentos, de perda de peso e culinários.

Pais das crianças que participaram nos dois programas emitidos estiveram presentes na audiência

A defender o programa estão os advogados Tiago Félix da Costa e João Brito, em representação da SIC, e Paulo de Jesus Correia, da Warner. Na sala de audiências, estiveram os pais das crianças que participaram nos dois programas emitidos e respetivos representantes legais.

Texto: Mafalda Silva | WIN

Impala Instagram


RELACIONADOS