Natalia Vlasova diz ter sido capturada por soldados de Putin na região de Donbass, na Ucrânia, em 2018, quatro anos antes de a Rússia invadir o país. Num tribunal russo, durante o julgamento, acusou os militares russos de a terem torturado e abusado sexualmente. A mulher, mãe de uma menina, contou ainda que os homens ameaçaram encontrar a filha, de cinco anos, e matá-la.

Apesar do testemunho e das alegações de que uma confissão anterior “foi forçada”, o juiz condenou a Vlasova a 18 anos de prisão, relata a Human Rights in Ukraine. Em tribunal, recordou os vários métodos que lhe foram aplicados para confessar crimes que não cometeu. Incluiriam “ser eletrificada até gritar alto o suficiente para satisfazer os carrascos”. “Se eu não gritasse o suficiente, aumentavam a corrente e os choques ficavam ainda mais intensos. Precisavam de uma reação. Não o percebi de imediato e só quando gritei suficiente alto é que ouvi vozes de satisfação deles.”

Soldados de Putin obrigaram Vlasova a passar a noite “com as mãos amarradas acima da cabeça”

Vlasova descreveu os homens como “maníacos” e identificou um dos líderes – Vasyl Yevdokimov, figura-chave em Izolyatsia, a infame prisão de tortura russa na Donetsk ocupada, na Ucrânia. Entre as acusações de terrorismo, estava “conspirar para matar Yevdokimov, também conhecido como Lenin”. Contou que Yevdokimov foi quem lhe “lixou os dentes uma lixa de unhas”. “Também inseriu uma garrafa no meu corpo, entre outras violências sexuais.”

Vlasova descreveu como os captores a forçaram a ficar de pé toda a noite, ao frio, num espaço minúsculo, “com as mãos amarradas e levantadas acima da cabeça”, acusando os soldados de Putin de múltiplos abusos sexuais. “Fui violada por pelo menos 15 homens ao mesmo tempo.” Em determinado momento, os militantes “disseram-me que sabiam onde a minha filha, Yulia, de cinco anos, estudava e ameaçaram matá-la com um brinquedo armadilhado”.

O Departamento de Direitos Humanos na Ucrânia acusou o juiz do julgamento de Natalia Vlasova, Oleg Aleksandrovich Cherepov, ter “ignorado totalmente os relatos horríveis” da mulher. A única evidência que apoiava as acusações de terrorismo era a confissão “forçada”, que foi filmada. Mais tarde, e sem a coação da tortura e dos abusos sexuais, retratou-se. Vlasova foi levada a julgamento em junho de 2023, juntamente com dois homens ucranianos, Serhiy Hruzynov e Victor Shydlovsky, também acusados ​​de terrorismo.

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