Tribunal inicia julgamento do jornalista angolano Rafael Marques sem presença do ofendido

O julgamento do jornalista angolano, Rafael Marques, arrancou em Luanda, numa sessão marcada pela ausência do ofendido, João Maria de Sousa.

Tribunal inicia julgamento do jornalista angolano Rafael Marques sem presença do ofendido

O julgamento do jornalista angolano, Rafael Marques, arrancou hoje em Luanda, numa sessão marcada pela ausência do ofendido, o ex-Procurador-Geral da República de Angola (PGR), João Maria de Sousa.

Além do jornalista e ativista Rafael Marques é também arguido no processo o jornalista angolano Mariano Costa, acusados dos crimes de injúrias contra a autoridade pública e de ultraje a órgão de soberania, o primeiro pela publicação de um artigo em que indicia que João Maria de Sousa está “envolvido em corrupção”, e o segundo pela republicação da mesma notícia no seu jornal.

Na leitura da acusação, a procuradora do Ministério Público, Tânia Guimarães, referiu que “os arguidos agiram de modo livre, consciente e deliberado”.

O artigo publicado no portal de notícias Maka Angola, de Rafael Marques, refere ainda, segundo a acusação, que o antigo PGR de Angola requereu em 2011, uma parcela de terreno, de três hectares, para a construção de um condomínio residencial com vista para o mar, no município do Porto Amboim, província do Cuanza Sul.

Nesta primeira sessão, questionado pela juíza sobre o que o leva a concluir o envolvimento de João Maria de Sousa em supostos atos de corrupção, Rafael Marques respondeu que foi a facilidade e celeridade como decorreu o processo de requerimento de terreno.

Rafael Marques disse que o deferimento do requerimento foi feito num prazo de cerca de dois meses, quando, pelo conhecimento que tem, com o seu trabalho de investigação, tal costuma demorar entre dois a três anos.

Segundo ainda Rafael Marques, há também a destacar a ausência de documentos no processo para a concessão do título de superfície, nomeadamente uma declaração do soba (autoridade tradicional) da área a especificar que tipo de terreno se tratava, a falta de recibos de pagamento dos técnicos e da indemnização dos camponeses.

O jornalista salientou ainda que foi através de uma denúncia de camponeses, os alegados donos do terreno, que deu início às investigações, que culminaram com a publicação do artigo, depois de aguardar por mais de uma semana resposta a um questionário sobre o assunto que enviou ao então PGR.

No mesmo texto, Rafael Marques escreveu que João Maria de Sousa, enquanto PGR, demonstrava “desrespeito pela Constituição, envolvendo-se numa série de negócios” que contavam com o “apadrinhamento” do então Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, “que lhe apara o jogo”.

“Aqui se aplica o princípio informal e cardeal da corrupção institucional em Angola, segundo o qual, uma mão lava a outra”, salienta a acusação, citando o artigo.

Pelo facto, a acusação considera que o antigo chefe de Estado angolano, “na qualidade de órgão de soberania foi tratado de modo ultrajante” pelos arguidos.

Instado a esclarecer o que era na sua perceção o “apadrinhamento” pelo ex-Presidente da República, o jornalista disse que já tinha realizado várias denúncias públicas que fez chegar igualmente a José Eduardo dos Santos, sobre a suposta participação de João Maria de Sousa em atividades alegadamente incompatíveis com o cargo que ocupava, como a de sócio-gerente em duas empresas privadas.

Os autos referem que no decurso da participação criminal, apurou-se com as diligências efetuadas que o ex-PGR requereu efetivamente a parcela de terreno, tendo-lhe sido conferido o título de concessão de direito de superfície, a 25 de maio de 2011, porém passado um ano, por falta de pagamento dos emolumentos, foi revogada a titularidade do terreno.

Em declarações à imprensa, no final da sessão, a defesa de Rafael Marques, considerou positiva a postura em tribunal do seu constituinte, tendo lamentado a ausência dos declarantes e sobretudo do ofendido, cuja presença considerou “crucial” para “ajudar o tribunal a formular o seu juízo”.

“Por isso mesmo a sessão foi adiada para o dia 16 de abril, esperamos que apareça o ofendido e os outros declarantes que fazem parte do processo na sua origem no Sumbe, porque sem eles será dificultada a possibilidade de o tribunal fazer justiça”, disse Horácio Junjuvili.

 

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