Um terço das urgências de obstetrícia do Amadora-Sintra não cumpre mínimos

Pelo menos um terço das urgências de ginecologia e obstetrícia do hospital Amadora-Sintra foram asseguradas por equipas sem o número mínimo de profissionais exigido, levando à transferência de grávidas, revelou hoje o bastonário da Ordem dos Médicos.

Um terço das urgências de obstetrícia do Amadora-Sintra não cumpre mínimos

“No mês de julho, dos 62 períodos de urgência, 20 não tiveram sequer a equipa mínima que é recomendada pelo colégio de especialidade, o que significa que, nalguns casos, a situação é dramática”, afirmou Miguel Guimarães aos jornalistas, no final de uma visita ao Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, na sequência da ameaça de demissão das chefes de equipa do serviço de urgência por falta de condições de segurança clínica.

O bastonário deu como exemplo o dia 14 de julho, em que o serviço de urgência na área de ginecologia e obstetrícia esteva a ser assegurado por uma especialista acompanhada de uma jovem interna e de um médico de clínica geral.

“Não é possível num hospital que serve uma população de quase 600 mil habitantes, que tem uma atividade do serviço de urgência enorme, ter uma equipa abaixo dos mínimos”, salientou o bastonário.

A médica Teresa Matos, uma das chefes da equipa de ginecologia e obstetrícia do hospital, revelou que em todas as situações que o serviço esteve a funcionar com equipas abaixo do mínimo, várias grávidas tiverem de ser transferidas para outros hospitais.

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Questionada sobre se os médicos vão mesmo avançar para a demissão, a especialista — que é também coordenadora do bloco de partos – disse que estão “à espera de ver quais são as respostas, as soluções” que vão ser apresentadas e está marcada uma reunião para decidir uma posição comum para dia 14.

Miguel Guimarães defendeu que o serviço precisa “com urgência” de mais cinco especialistas: “é uma emergência mesmo, porque, caso contrário, pode acontecer que a equipa de obstetrícia e ginecologia não possa funcionar em determinados dias”.

Teresa Matos lembrou ainda que o serviço tem “um corpo clínico envelhecido”. Dos 17 especialistas que fazem urgência, nove têm mais de 55 anos, dois têm 54, o que faz com que nada possa garantir que os médicos não apresentem, no próximo mês, uma recusa em fazer noites ou mesmo as urgências

Dos sete especialistas que têm menos de 50 anos, dois estão de licença de maternidade, observou ainda.

Segundo o bastonário, o Amadora-Sintra foi identificado pelo colégio de especialidade de Obstetrícia e Ginecologia com um dos três hospitais do país com mais carências nesta área, juntamente com os hospitais de Braga e de Faro.

Para Miguel Guimarães, os médicos que asseguram este serviço de urgência “têm sido uns heróis, porque multiplicam urgência, atrás de urgência, mas sentem que na realidade a segurança clínica pode estar em causa”.

No entanto, ressalvou, “a população pode recorrer tranquilamente a este hospital”.

Miguel Guimarães lembrou que estes médicos deram 15 dias (até meio de agosto) para que sejam feitas novas contratações e advertiu que, “se isso não acontecer, eles não podem continuar a assumir a responsabilidade”.

Na sua opinião, essa responsabilidade deve ser atribuída aos políticos, já que são estes os “responsáveis por aquilo que está a acontecer” e “não os médicos”, que “dão o máximo no sentido do dever e de defender a causa pública”.

“O limite está a ser ultrapassado”, concluiu.

 

 

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