Uso compulsivo das redes sociais aumenta risco de problemas sexuais
O estudo decorreu entre 2019 e 2021 e focou-se na faixa etária jovem (18/30 anos) e heterossexual, disse o investigador, adiantando que a amostra contou com 1.486 participantes.
Um estudo do ISPA-Instituto Universitário de Lisboa (ISPA) concluiu que o uso “mais compulsivo” das redes sociais aumenta a probabilidade de problemas sexuais nos homens e nas mulheres, como insatisfação sexual ou disfunção erétil. O estudo, conduzido por Rui Miguel Costa, investigador do William James Center for Research, no Ispa, conclui que “quanto maior o grau de dependência das redes sociais, maior a probabilidade de haver problemas sexuais”.
Nos homens, constatou-se um maior risco de disfunção erétil e de insatisfação sexual, e nas mulheres um maior de risco de dificuldades na excitação e no orgasmo, assim como de insatisfação sexual e dor durante as relações sexuais, disse hoje à agência Lusa o investigador, que publicou recentemente a investigação no boletim científico Journal of Sexual Medicine.
O estudo decorreu entre 2019 e 2021 e focou-se na faixa etária jovem (18/30 anos) e heterossexual, disse o investigador, adiantando que a amostra contou com 1.486 participantes.
Sobre o objetivo da investigação, Rui Miguel Costa começou por explicar que, nos últimos anos, tem havido “uma série de investigações” a mostrar que um uso muito frequente de redes sociais causa problemas emocionais, ansiedade, depressão e solidão.
“O que não se sabe muito bem, ou pelo menos não tem havido uma grande vontade de fazer a pergunta, é se o uso muito frequente de redes sociais também afeta o funcionamento sexual”, disse, observando que havia apenas dois estudos realizados sobre este tema, um no Irão e outro na Polónia, que verificaram que “o uso muito frequente de redes sociais se associava de facto a problemas sexuais”.
O estudo realizado em Portugal teve objetivos semelhantes, tentando “perceber se o uso mais problemático, mais compulsivo, das redes sociais se associa a problemas sexuais”, tendo concluído que o problema atinge homens e mulheres, disse o investigador, referindo que os estudos prévios só tinham avaliado os problemas sexuais femininos.
Apesar de ainda não serem claros os mecanismos que explicam esta situação, Rui Miguel Costa disse que “algo tem que ser investigado no futuro”, e que o estudo aponta para a possibilidade da dependência das redes sociais reduzir a atenção dada ao parceiro ou à parceira, criando sensações de afastamento emocional, com impacto negativo na função sexual. “Também é possível que o risco de problemas sexuais seja aumentado pelo stress e mal-estar psicológico que, por vezes, as redes sociais geram, sendo que estas duas explicações não são mutuamente exclusivas”, ressalvou.
Rui Miguel Costa considera necessária a moderação do uso das redes sociais e que os utilizadores “comecem a ganhar consciência de que há um efeito tóxico na sua utilização excessiva, como acontece com o álcool, o tabaco, que pode levar a perturbações emocionais, causar sentimentos de solidão, mesmo em pessoas que têm relações ótimas”. “Isto é um fenómeno muito interessante e provavelmente deve-se ao facto de o nosso cérebro ter evoluído ao longo de milhões de anos e estar preparado para reconhecer uma companhia quando está fisicamente presente”, explicou o investigador.
“Ao insistirmos sistematicamente em tentar conectar-nos, não meramente em receber e transmitir informação, mas ter uma ambição maior de conexão social com outros, o nosso cérebro não recebe inteiramente a informação de que está com alguém e isto gera sentimentos de solidão e nós sabemos agora que, quanto mais as pessoas usam as redes sociais, mais sós vão ficando, que é uma coisa paradoxal”, sustentou.
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