Queixas de poluição no Rio Tejo já têm décadas: «Vimos o rio todo porco»

Em 1988 um grupo de alunos do Jardim de infância Júlia Moreira escreveu uma carta ao Presidente da Câmara de Lisboa sobre as suas preocupações

A poluição no rio Tejo tomou proporções preocupantes nos últimos meses e o ponto de viragem foi sem dúvida o vídeo divulgado por Arlindo Marques no dia 24 de janeiro.

Porém, em 1988, um grupo de crianças do Jardim de infância Júlia Moreira já se preocupava com a situação. Foi através de uma visita de estudo ao rio que os alunos repararam que «o rio está todo sujo» e decidiram tomar medidas. Na altura a poluição não se referia a resíduos industriais que criavam a tão falada «espuma do Tejo».

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As crianças referiam-se ao lixo que as pessoas deitavam para o rio: «Não deitem lixo para os rios senão os peixes ficam doentes e morrem».

Os testemunhos estão numa revista científica sobre o rio Tejo e por lá pode-se ler a carta enviada pelos meninos e meninas da sala infantil 2.

«Atividade no Jardim de Infância: crianças construíam barcos e aqui brincam num lago improvisado no jardim», lê-se de forma a explicar o que ali faziam as crianças.

«(…) Pôr cobro à poluição do Tejo era, na realidade, a intenção das crianças. O Bruno teve uma ideia: «escrever para os cafés – escrever texto, reproduzir no limógrafo e afixar nas montras e nas portas dos cafés- Subitamente ocorreu-me outra ideia: ‘e se escrevêssemos para o Presidente da Câmara?’ Procedemos à realização da carta» é explicado.

A dita carta foi enviada para o Presidente da Câmara de Lisboa da altura, Nuno Abecasis.

«O Rio Tejo está todo sujo. Nós, quando chegámos lá, vimos o rio todo porco. Você é capaz de limpar o Rio Tejo?» Este era o pedido das crianças ao presidente e foi desta forma que quiseram começar a carta.

«Presidente da Câmara, por favor pede às pessoas que fizeram aquilo para tirar o lixo daquilo. Diz às pessoas todas para quando elas forem para o rio comer, quando acabarem de comer não mandarem os papéis para a água.»

Os meninos e meninas da sala infantil 2 explicaram ainda de que forma o presidente podia limpar o rio.

«Primeiro tiram os papéis todos do mar; depois tiram os peixes da água; depois limpam tudo e põem os peixes outra vez na água.»

Nuno Abecasis, Presidente da Câmara de Lisboa entre 1980 e 1989, respondeu à carta destes alunos preocupados. «Meus queridos amigos», começou por escrever.

«Recebi a vossa simpática carta sobre o estado em que se encontra o nosso bonito e imponente Rio Tejo. Quero dizer-vos que a Câmara Municipal de Lisboa está atenta aos problemas da cidade e também não quer acabar com as coisas boas que Lisboa tem. Por essa razão vamos gastar um rio de dinheiro para salvar o Rio Tejo.»

No final da carta – que pode ler na íntegra na nossa galeria – Nuno Abecasis acrescenta: «Peçam-lhes que não matem o nosso querido Rio.»

Veja na nossa galeria as cartas trocadas entre alunos e presidente.

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