Mulher de Pedro Lima revoltada diz-se a “viver numa ditadura”
Anna Westerlund, viúva de Pedro Lima, é contra a decisão do Governo de requerer casas no eco-resort Zmar, de forma temporária, para situações relacionadas com a covid-19.
A viúva de Pedro Lima está revoltada com a decisão do Governo de requerer, de forma temporária, casas no eco-resort Zmar, na Zambujeira do Mar, para situações de confinamento obrigatório devido à covid-19 e de isolamento profilático. A decisão surge no seguimento da instauração das cercas sanitárias nas freguesias São Teotónio e Longueira-Almograve, no concelho de Odemira. Nas redes sociais, Anna Westerlund lamenta e diz sentir-se “a viver numa ditadura”.
“Temos uma casa no Zmar Eco Resort e o Governo decidiu que temos de a disponibilizar para receber doentes covid-19 de Odemira, a maior parte deles trabalhadores nas estufas locais. Diz o primeiro-ministro [António Costa] que eles têm direito a viver em condições dignas (obviamente, mas esse direito não começou ontem)”, escreve a ceramista, como legenda de uma imagem em que surge ao lado de Pedro Lima, captada naquela unidade de alojamento.
“Pergunto eu, há quanto tempo é que eles não vivem em cima uns dos outros, enfiados em casas, sabe-se lá em que condições? Não é desde o tempo da covid-19! E, agora, não são os empresários que os contratam que são responsáveis por eles? Não é o Governo que fecha os olhos à quantidade deles que devem estar ilegais que cuida deles? Sou eu que sou obrigada a ceder a minha casa para os receber?”
Viúva de Pedro Lima acusa António Costa de “camuflar a descaracterização daquela região, que se enche de estufas”
Anna Westerlund recorda ainda a “situação financeira difícil” que o Zmar atravessa “já há muito tempo”. “Agora que um investidor tinha decidido a dar ao Zmar a dignidade que merece, acontece isto. Pergunto eu: se o investidor desistir, quem é que se vai preocupar com os 200 trabalhadores do Zmar que vão ficar sem trabalho? Se o Zmar fechar, quem é que se vai preocupar com a dinamização turística importante que este empreendimento proporciona naquela região? Se o Zmar fechar, quem é que se vai preocupar com os proprietários que ficam com casas na terra-de-ninguém? Gostava de saber o que é que o primeiro-ministro vai requisitar nessa altura”, prossegue.
A terminar, a viúva de Pedro Lima – que morreu em 20 de junho do ano passado na Praia do Abano, em Cascais – lamenta que os “cidadãos comuns” que cumprem “com as obrigações” percam “facilmente” os “direitos a favor de empresários que não tomam conta dos direitos dos seus trabalhadores”.
“O que está a acontecer com o Zmar e que parece uma simples requisição civil para resolver a covid-19 naquela zona é o camuflar de uma descaracterização daquela região que se enche de estufas, da ganância económica que não pára para pensar nem olha a meios. Isto que está a acontecer no Zmar é muito grave”, conclui. Anna Westerlund e Pedro Lima apaixonaram-se pelo eco-resort em 2014 e adquiriram uma casa de madeira no local.
Texto: Ana Filipe Silveira;
Fotos: Arquivo Impala e reprodução redes sociais
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