Zé Pedro: «A minha primeira vez de avião foi também a minha primeira piela»

Zé Pedro escreveu um texto emocionante para a Agenda Solidária IPO2018. Um dos últimos registos do músico, sobre episódios que o marcaram para sempre

O Instituto Português de Oncologia, de Lisboa, decidiu publicar um texto de Zé Pedro –  que morreu esta quinta-feira – nas redes sociais. O registo escrito, é um dos últimos do músico em vida e faz parte da Agenda Solidária IPO 2018.

«O meu pai era oficial do exército, passava muito tempo em comissões nas ex-colónias e cabia à minha mãe a tarefa de tomar conta das ‘tropas’», começou por escrever.

O guitarrista dos Xutos & Pontapés recorda o momento em que a família se encontrava na Guiné, a quem se juntou após as atividades escolares. Tinha 11 anos e era a sua primeira viagem de avião. Uma aventura que recordava até hoje, quando fez uma paragem no Sal, em São Tomé, ficando apenas com um amigo que tinha conhecido durante o voo. Ambos estavam com fome, sede e cansados, até serem resgatados por um militar.

«Levou-nos à caserna para comermos uns ovos com uma carne bastante dura, mas que nos soube pela vida, e para bebermos. Como a água escasseava na ilha, só o vinho podia matar a nossa sede. Resultado? Ficámos completamente bêbedos. A minha primeira vez de avião foi também a minha primeira piela e a minha primeira ressaca», recordou.

 

José Pedro dos Santos Reis, acabou por rumar a Bissau, no dia seguinte, onde a família o esperava. Contudo, o avião teve de andar às voltas no ar pois «tinha explodido na pista um avião do Biafra», um antigo estado secessionista do sudeste da Nigéria.

 

«Ainda apanhei duas notas do Biafra que tinham voado do tal avião. Conservo-as até hoje, como símbolo da minha primeira vez. Ou das minhas primeiras vezes»

Zé Pedro faleceu esta quinta-feira, dia 30 de novembro, aos 61 anos vitima de doença prolongada. O IPO de Lisboa publicou o texto que pode ler na íntegra na nossa galeria.

«Zé Pedro! Escreveu um texto para a Agenda Solidária IPO 2018. Um texto único. Como ele. “Para ajudar os que lutam como eu!” Foi o que disse quando lho pedimos, em junho passado. Já doente, não veio ao lançamento da Agenda. Também não vai dar autógrafos, como queria. Em homenagem ao homem generoso e à música que nos deixa, publicamos o texto que «compôs» para a Agenda do IPO: «As minhas notas do Biafra».Obrigado Zé Pedro!»

 

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