Quanta água é necessária para fazer um bife de vaca

A quantidade de água necessária para produzir um bom bife à casa é gigantesca. Mas também é importante saber-se que existem dois tipos de recursos hídricos para a produção de carne de vaca: o mau e o menos mau.

Quanta água é necessária para fazer um bife de vaca

Quase tudo o que comemos exige água em algum momento do processo de produção e a carne de vaca é a que se estabeleceu ser uma das maiores responsáveis pela pegada hídrica. Quanta água é portanto necessária para que um bife de vaca nos seja servido à refeição?

Pelos cálculos de Tim Hess (professor de Sistemas de Água e Alimentos da Universidade de Cranfield) e de Adrian Williams (investigador associado em Sistemas Ambientais da mesma universidade britânica), “são necessários 15 mil litros de água para produzir um quilo de carne bovina“.

A equação, porém, “não representa toda a história” sobre a quantidade necessária de água para produzir a carne que nos chega ao prato. E está longe de ser o único impacto que tem no Planeta. Só com “uma análise mais detalhada” sobre ‘como’ e ‘onde’ a carne é cultivada tem um efeito enorme na pegada hídrica.

Quanta água doce retiramos do meio ambiente para produzir alimentos?

"A água azul pode ser usada para irrigar plantas, erva ou outras culturas alimentares
Produção de alimentos é responsável “por 70% da água doce retirada do meio ambiente”

A produção de alimentos é responsável “por 70% da água doce retirada do meio ambiente“. O uso de grandes quantidades de água para produzir carne de vaca “tem causado escassez de água” no oeste dos Estados Unidos da América e um pouco por todo o mundo. Uma vez que as alterações climáticas “ameaçam secas mais longas e mais severas, é importante examinar a quantidade de água necessária para produzir os nossos alimentos”.

Para responder a quão sedenta é a carne bovina, Hees e Williams dizem ser necessário, primeiro, “diferenciar as duas fontes de água”. “Quando falamos de água pensamos normalmente em rios, lagos, reservatórios e aquíferos subterrâneos. Isto é o que os hidrólogos chamam de ‘água azul’. Consumir água azul para produzir alimentos esgota estas fontes, deixando menos quantidade disponível para as nossas casas, para a indústria e para a manutenção de um ambiente saudável”, explicam.

A ‘água verde’, por outro lado, “é a chuva que as plantas consomem”. Em alguns países, as plantas que servem de alimento para as vacas (erva para pasto, feno ou silagem e cereais) são “principalmente alimentadas pela chuva”, e a água verde “é responsável por grande parte dos enormes números citados para o consumo de água da carne de vaca”.

Como a água verde não pode ser reaproveitada – “a menos que cobríssemos o chão com uma lona e conseguíssemos aproveitar alguma –, não consideramos o seu consumo como parte do impacto da produção pecuária“. Em vez disso, “devemos concentrar-nos na água azul consumida”. Neste caso, afinal, “a quantidade necessária para produzir um quilo de carne é muito menor do que os 15 mil litros” anteriormente citados.

Qual é a carne de vaca com água azul?

Quantidade de 'água azul' necessária para colocar a carne no nosso prato depende, "da dieta do animal e do sistema que a produziu"
Quantidade de ‘água azul’ necessária para colocar a carne no nosso prato depende, “da dieta do animal e do sistema que a produziu”

“A água azul pode ser usada para irrigar plantas, erva ou outras culturas alimentares, na indústria de processamento de ração e em herdades para água potável e limpeza e para lavar matadouros”, explicam os universitários. De facto, “usamos quantidades pequenas noutras coisas, como em produtos veterinários”. A quantidade de água azul necessária para colocar a carne no nosso prato depende, por isso, “da dieta do animal e do sistema que a produziu”. Essa quantidade “é estimada em 67 litros por quilo de carne“, em média.

Estes números são relativamente baixos “porque a maior parte da carne bovina consumida é alimentada a pasto”. Nos Estados Unidos da América, contudo, “os sistemas de produção que dependem de ração irrigada podem consumir quase 2 mil litros por quilo”. Ou seja, é esta a quantidade de água azul foi desviada de rios e de aquíferos.

Além da água usada na criação do animal, outros “700 a mil litros de água são necessários para lavagem e higienização de cada animal morto nos matadouros“. Como “nem toda a carcaça produz carne” para consumo humano – “e parte dela pode ser, por exemplo, usada para produzir comida de cão e couro (e não sendo os ossos comestíveis) –, “então o consumo total de água deve ser distribuído entre todos estes produtos“. Assim, “produzir 375 gramas de bife consome 33 litros de água azul”, 96% dos quais “vão para alimentação e criação do animal”.

As consequências do uso da água para produzir alimentos “dependem de onde vem e quanto água está disponível”. No Reino Unido, a maior parte da produção de carne bovina está concentrada no sudoeste da Inglaterra, Cheshire, noroeste da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda. Isto é, em todas as zonas mais húmidas das Ilhas Britânicas.

A maior parte da água que o gado bebe, e a água usada para processar a sua carne, vem no entanto “do abastecimento público”, competindo por isso com outras necessidades. Desde a primavera de 2023, as restrições na utilização de água entraram em vigor em partes do sudoeste da Inglaterra devido ao tempo seco prolongado.

Produzir um bife de vaca consome mais água do que cultivar um abacate?

Os 33 litros de água doce necessários para produzir uma porção de carne bovina são "muito menos do que os 73 litros usados ​​para produzir um abacate
Os 33 litros de água doce necessários para produzir uma porção de carne bovina são “muito inferiores aos usados ​​para produzir um abacate”

Os 33 litros de água doce necessários para produzir uma porção de carne bovina são “mais de dez vezes superiores do que os 2,3 litros necessários para cultivar as batatas” que completam o nosso ‘bitoque’, embora seja “muito menos do que os 73 litros usados ​​para produzir um abacate no Peru ou os 181 necessários para produzir uma porção de arroz basmati no Paquistão”.

Existem “muitas outras coisas a considerar” numa dieta sustentável e saudável. A escassez de água é apenas “um dos muitos impactos” da produção de carne bovina. As vacas emitem “enormes quantidades de gases de efeito estufa“, como o metano, e o cultivo que as alimenta, como cereais, “consome muito fertilizante sintético geralmente produzido pela queima de combustíveis fósseis”.

Em algumas circunstâncias, “o pasto pode ser um sorvedouro de CO₂ da atmosfera e inadequado para outras utilizações agrícolas”. Mas “uma grande quantidade de floresta e outros habitats foram perdidos para dar lugar a este pasto”. A ponto de a terra usada para o cultivo de ração para vacas poder, se a opção fosse diferente, “produzir mais alimentos para as pessoas”. Os detritos do gado acabam também “se mal gerido, poluir os rios”, contribuindo ainda mais para a degradação do meio ambiente.

Para fazer escolhas informadas sobre o impacto da carne bovina na água do mundo, “devemos conhecer a origem da carne”. Comer carne bovina do oeste dos EUA “pode ter um sério impacto na quantidade de água disponível para tudo o resto”, enquanto a carne bovina na Grã-Bretanha ou em Portugal, por exemplo nos Açores, “é mais benigna”.

Devemos informar-nos igualmente sobre “o que comia o animal, se a ração era irrigada, de onde vinha a água e quão escassa é a água na região onde foi criado”, aconselham os investigadores da Universidade de Cranfield, Tim Hess e Adrian Williams.

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